segunda-feira, 14 de novembro de 2011

DESCULPA DIFÍCIL EM RIMA FÁCIL (P/A)





DESCULPA DIFÍCIL EM RIMA FÁCIL - P/A

E, meditando, amiguinha:
o querer ser, me arrebata!
Mas há pouco o que fazer
frente ao sangue que em mim corre,
e foge de ser
de barata.

Tanta gente encantadora
dócil, gentil, prestativa
com pouco esforço querida,
marcante e sutil pela vida
agradando a todo mundo,
bastando,
pra isso,
viver.

Seria tão bom,
fácil, simples,
ser assim como você...

Mas, em mim,
a carga, “nascida”,
trouxe também proibidas
tais artes tão desejadas.

Ingredientes perdidos
na hora de me fazer?
Não há quem saiba dizer.

Sei que me encantam receitas
de assar assim tanta gente,
cada qual pra ser um bolo.
Tanto bolo diferente!
Em coberturas, recheios,
quanta beleza por fora,
E vivências de permeio!

Com pureza,
feito os outros,
eu confio ter pedido
para vir e ser amada.
E, acredito, desejei,
com a mais ampla certeza,
- se a liberdade foi dada -
vir também inteligente...


Mas, por mais
que eu me esforce,
na hora do vamos ver,
do sorrir em concordância,
a minha parte implicância
posta com mão tão pesada,
se exibindo vem
por inteiro.

Será que esta sabidinha,
plena de ponderação
por força do raciocínio
e muito vir a pensar,
há que impingir, dominar?
Tenho certeza que não.

E se um anjo auxiliar
sensível e sonhador,
de olhar posto no horizonte,
juntou à farinha, aos montes,
uma avessa substância
que cresceu feito fermento
pra muito discernimento
com verbo solto a pretexto
de nenhuma concisão?

Certo é que sou faladeira,
cheia de jeito e maneira
de em tudo, mais do que ver,
vir a me achar, me meter,
e por força dos fatos querer
impingir, obrigar à razão.

Assim sou porque exigi?
Há quem diga:
Tem que ser!
Mas eu juro, amada, amiga,
se assim fosse
e eu voltasse
a poder
escolher?
Apta a me arrepender
(mirando nos olhos do anjo,
também eu angelical),
só rogaria depressa,:
“O condão de graciosa,
calma, atraente, serena,
e é só isso.
Pode ser?”

Curiosidades:

* Raros são os poemas que retratam verdades minhas, a maioria é espelho impactado pelo reflexo de outrem. Neste estou eu, toda ironia, e toda em sinceridade,no tempo em que foi composto, como quando é relido. Eu e minha ambiguidade(ambigüidade).

(Cecilia Ferreira)

2 comentários:

  1. Querida prima,

    No seu blog há muito do Facó que carrego. Encontrei aqui, especialmente nesse poema, o peso de quem não cabe em si, de quem precisa da palavra em todas as suas formas e efeitos.

    Se podemos sentir saudades do que não vivemos, como disse em outro post, posso agora sentir saudades de quem acabo de conhecer. Amizade de nuvem é também de sangue.

    Parabéns por este espaço tão rico! Voltarei aqui!

    Obrigada também pela sua visita a minha esquina, a nossa estradinha.

    Um beijo carinhoso,

    Rachel Facó
    http://esquinadoconto.blogspot.com

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  2. Ah, o sangue que arde, e comentários que, sopro, aliviam o reconhecimento da identidade. Acabo de descobrir que há como ser infinitamente grata a um estilhaço de espelho! Porque custa quem tenha tempo de enxergar os sentidos vários na palavra pouca.
    Carinhoso o meu também, Rachel Facó!
    Irei sempre; venha!
    Bjs

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Que bom que quis comentar. Pode esperar que logo respondo. Obrigadinha.