quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Fraterno amanhecer*



















Estás agora acima.
Acima dos prados, dos campos,
das estrelas, dos pirilampos.
Muito acima das dores da vida
que te roubaram.

Eu?
Perduro, para além do desejo
de acompanhar-te,
para a graça
dos que tanto amo,
para o grito que solfejo.

Se o universo perdeu o sentido?

Não.
Continua lindo,
exato como enxergavas
e, assim, para os outros
que têm modos,
desses,
como os teus,
de ver além
da frialdade das coisas,
além dos homens,
insanos,
além da ineficiência
daqueles que se consomem
em desejos cotidianos.

O mundo ainda tem a beleza
que afirmavas pertencer
às paisagens,
aos alimentos,
às estações dos trens,
do tempo,
dos ventos
nas quebradas das montanhas,
quando os teus olhos,
sinceros,
escondendo a dor tamanha,
tinham boca de dizer:
amanhã estarei bem,
falta o dia amanhecer.

* Cecilia Ferreira

Saudades Femininas*



Quero ser avó.

Uma avó cheinha,
bem enrugadinha,
como foi a minha.

Avó jardineira,
rescendendo a rosas,
hortelã, cominho,
dálias, margaridas,
que, de tão querida,
será Vó somente.

Vó que na cozinha
fará tortas,
certas,
de maçãs,
de nozes,
biscoitos de nata,
amêndoa,
canela,
cravo, coco, açúcar...,
sabendo a farinha
como soube a minha.

Quero ser avó.
Uma Vó apenas,
das que faz crochê,
mantas de tricô,
de matelassê.

Vó.

Avó,
a penas
de colo macio,
bochechas rosadas,
cabelos nevados,
trazendo pintinhas
no rosto
e nas mãos que curam,
sustentam,
e muito acarinham,
como fez a minha.

Vó,
assim, caseira,
sem vãs vaidades,
nada esticadinha,
e sempre coquete.

Vó, de juventude
interna e inteira,
que a dignidade
venha envelhecer.

Quero ser avó
que a ninguém assusta,
daquela que encanta
e sabe ser justa,
que aos filhos conforta,
que aos netos escuta;
mas que faz folia.

Vó, com energia,
que não preocupa,
de quem da garganta
ouve-se, em poesia,
toda a melodia
de quem viveu bem.

Vó que, anoitecendo,
seja como as cinzas,
leve e descansada;
pois que foi fogueira
quando menininha.

E que um belo dia,
sem incandescências,
no aura da aragem
toda feito avó,
na alma aninhada,
seja pura Vó
do peito de alguém.

Como inda é a minha.

Isso é alegria
Isso é tudo, e só.


* Cecilia Ferreira



terça-feira, 30 de agosto de 2011

MÃE


Eu sinto tanto
a sua falta.

Falta que rói,
falta que arde,
chega mansinha
não faz alarde,
é como brasa
do bem querer:
um vento sopra
ela renasce
e em minh’alma
se faz doer.

• Livro “Instantâneos”, autora Cecilia Ferreira, seleção “ressurreição”, ed. Massao Ohno.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Gratidão



Grata Pai,

pelo pai;

grata pai,

por mamãe;

grata mãe,

por meus filhos por meus dedos por meus cílios por minh’alma torturada pela dor dessas saudades;

não tivera eu tais dores,

esse banzo tão profundo da pátria que foram seus corpos, do lar construído em seus toques, do giro valsado em seus passos, da segurança gerada no por onde derramar, contracorrendo quietações, remansos de águas salgadas,

ontem, hoje e amanhã

não seria, eu,

mais nada.



Cecilia Ferreira

DORES e ALEGRIAS
* 30/08: Aniversário de Elsie Facó Vidigal
* 29/08/2010: Falecimento de Geraldo de Camargo Vidigal

Curiosidades:
* É claro que ele só poderia ter deixado seus filhos pra ir comemorar o aniversário da esposa querida.

domingo, 28 de agosto de 2011

‘TÔ’ CO'A MACACA?


Já enxergou tudo velho, tão antigo que as dores universais pareçam madeira apodrecida e carunchada?

Acordei desgostosa de mundo, quase inoperante. Não de físico, que este fez o que tinha que fazer, mas de alma...

Na terra nada muda: corrupção, assassinatos, pedofilias, espancamentos, colarinhos de Alvorada e suas almas descoloridas.

Chi... Melhor olhar pra cima!

Tão alto?

Então tá: o maior prédio do mundo vai ter pra lá de quilômetro.
De quem é? Da família Bin Laden, uai. Ô gente boa!

Edifícios crescem. Homens não?

Estações se sucedem e fruta verde amadurece. Homens não?

Assunto ruim... Que tal música?: Amy Winehouse não morreu de overdose de drogas proibidas! Ainda bem! Parece que morreu das permitidas mesmo (?).

Falemos de evolução: o cérebro masculino é 10% maior. Notícia antiga.

Nunca achei grande coisa. Afinal, o mamífero macho, modo geral, é maior que a fêmea escolhida. Que bom que o cérebro acompanha o todo, né? Pena que o mais desenvolvido neles seja a habilidade matemática... Já nas mulheres a área mais volumosa é a das reações emocionais. Socorro! Tá explicada a TPM!

Sabia que homens adquirem TPM? Verdade! Só não é mensal.

A Tensão Pós-Matrimonial surge quando o jovem macho, após ritual de união, descobre que jogar futebol pode não ser pra sempre, que o controle da tv gosta das mãos femininas e que a noiva não é a mamãe faz tudo e sem direitos que ele imaginou.


TPM varonil é sinal dos tempos e remonta aos primórdios das piadas sobre os másculos parceiros.

Há cinquenta anos atrás havia piada de português, russo, taxista, borracheiro, Ricardão... Mas, de marido?, tipo: “Quando um homem tem planos para o futuro? Quando compra duas caixas de cerveja” Ou: “Quando um marido faz exercício abdominal? Só se o controle da tv estiver entre os dedos dos pés”, nunca!

Na telinha, foi dito: o cérebro feminino processa a fala em dois hemisférios ao mesmo tempo, o homem só no esquerdo.



Significa que enquanto tomamos fôlego para mais uma descarga eles mal armam a frase que nos calaria. ‘Tô’ com eles, desesperador! Vá se saber se não é por isso que preferem a companhia de homens.

A neurociência garante: tais capacidades desenvolveram-se quando o macho caçava e a fêmea coletava (quer dizer: sempre fomos vegetarianos e carnívoros – os partidários da alimentação exclusivamente vegetal que se entendam com o Criador, ‘tô’ só constatando).

Enfim: concluiu-se que ambos são levados a desempenhar funções cognitivas diferentes para resultado idêntico.


Aliás, falando em Criador, o responsável por tudo que é celular (e não cito aqui o seu telefone) pensou tudo muito bem. Na cadeia alimentar cada um devora cada qual na tentativa de subsistência. Sim, nos parece um horror, mas é o que mantém (ou mantinha) o mundo equilibrado.


E, grande descoberta! Na última semana conhecida revista destacou “Ardi”, uma fêmea fóssil. Estudiosos afirmam que ela deu origem ao ser humano como aos símios.

Meninos e meninas, 2011 anos depois de Cristo, creiam, já não devem seus cérebros intensamente desenvolvidos e dedões opositores aos macacos! Finalmente descobriram aquilo que muitos sempre souberam: Darwin estava errado!

Significa que acordei sofrendo à toa? Ufa! Já tenho o que comemorar, posso dizer que venho de um hominídeo sem ser chamada de ignorante.

Nem ‘tô’ co'a macaca!

Tragam línguas de sogra, chocalhos, fogos, espelhinhos e balangandãs: ninguém mais é filho de gorila. Melhorou... Agora você é tão-somente irmão de chimpanzé!

Pelo menos até que nossos matemáticos e emocionais cérebros descubram algo novo e se cubram, quem sabe, com a plena razão.

Será que vivo pra ver?




CURIOSIDADES:
* Macacos e feministas extremadas me mordam, mas o que seria de uma mulher sem o seu homem?

CURTAS:
* Crônica publicada na Folha da Região na minha coluna, Tête-à-tête, em 28/08/11.
* Esta crônica confirma o meu pensamento "pouco científico" de 2007, publicado na FR na coluna Soletrando.
* "Falando em fé", o artigo citado acima, está postado sob o mesmo marcador "Do Inconformismo" neste blog.
* Burj em Árabe significa torre.
* O edifício que se apresenta, em foto, nesta crônica, é "Bin", mas não é "Laden".
* O aqui postado, é o Burj Khalifa, antigo Burj Dubai - antes da injeção de grana por parte de Khalifa Bin Zahied Al Nahyanan que é Xeque (soberano)de Abu Dhabi.
* A bufunfinha, 10 milhões de dólares, foi injetada para que Dubai não desse calote em seus investidores.
* Apesar de toda essa exibição de riqueza (ou talvez por isso) os Emirados Árabes Unidos (Abu Dhabi) possuem indianos, filipinos, paquistaneses e outros árabes trabalhando em semi-escravidão, semelhante a muitos bóias-frias do sertão brasileiro.

sábado, 27 de agosto de 2011

Falando em fé...

Mateus 21. 22: “Em verdade vos digo que se tiverdes fé e não duvidardes (...) tudo o que pedirdes, na oração, crendo o recebereis”.


Cientistas procuram explicar os mistérios da fé como sendo tão somente uma ação biológica, inata, de origem química. Não deveria ser surpresa para nenhum cientista deste século a reação física derivada do ato de confiar em Deus.

Há muito sabemos que reações orgânicas nos ajudam a subsistir. A ciência explica como, mas não por quê.


Os esclarecimentos científicos têm suscitado mais questionamentos que certezas.



Dizem: “chove porque está muito quente”, ou “não chove porque não há árvores para reter a umidade”.
Ah... Sei! Como é mesmo? O deserto é quente porque não tem árvores, ou não tem árvores porque é quente?

Enciclopédias afirmam: a desertificação ocorre por fatores naturais, ou ação humana, e, no Saara, avançou, ao longo de milênios, pela pouca pluviosidade.

Tudo bem, o efeito-estufa-pós-glacial, não foi culpa do homem! Mas, vá explicar por que a chuva desertou daquela e não doutra região.


O biólogo David Wilson (EUA), em entrevista, proclama-se sem Deus e com fé.


Depois de dizer que não entende a teoria da relatividade de Einstein, afirma ter fé na veracidade da tal incompreendida tese. Alguém entende?

Cocemos nossas cabeças... Incompreensível por incompreensível melhor fé noutro macho que em Deus? Será?

E cadê o ‘elo perdido’ de nossa suposta ascendência símia?

A teoria de Darwin é ensinada nas escolas, ano após ano, e ainda depende da comprovação.

Sei lá... Darwin talvez acreditasse no que disse, mas eu tenho uma ligeira desconfiança de que (pelo menos eu e minha família) não descendemos do macaco.

Nem ao menos somos a única espécie capaz de antecipar nossa própria morte como afirmou certo veículo de comunicação, porque as baleias além de capazes de suicídio o fazem coletivamente (como uns poucos fanáticos religiosos).

O que não dá para negar é que somos os únicos a exibir fé Naquele que opera milagres demonstráveis e cientificamente inexplicáveis. A verdade é que ninguém nos ensinou, cremos no Criador porque está em nós agir assim.


Nossos primeiros ancestrais conhecidos (comprovados pela genética) criam e, segundo a arqueologia, sobreviviam em áridos tempos porque tinham Deus no coração.


Como contra fatos o homem não opõe argumentos, e o saber jamais provou a inexistência de Deus como supôs nossa vã filosofia, cientistas substituem o desvendar do mistério pelo reconhecimento público de ocorrência química em milagres físicos.

Tateamos, às cegas, o sombrio mundo dos homens, porque o Mistério, insondável em nossa culta arrogância e orgulho científico, só é visível e expugnável pela fé.


CURIOSIDADES:
* O artigo foi publicado na Folha da região, coluna Soletrando (pertencente à Academia Araçatubense de Letras), em 07/02/2007.
* Amanhã sairá outro artigo, no mesmo jornal (coluna Tête-à-tête), falando da tal hominídea Ardi, de quem concardaram (finalmente?) em descender.
* Publico este artigo como forma de dar sequência: pensava antes, e permaneço pensando (que ainda não inventaram um jeito de invadir mais este direito à privacidade): independente da fé, o intelecto, maioria das vezes, é mais importante do que certas afirmações "científicas".

LETRAS E SUPORTES


Ninguém é dono das palavras ditas. Apenas das escritas. De toda forma é, no mínimo estranho, ver alguém repetir (na sua frente) um discurso (que ouviu de você) com a pompa e a circunstância da autoria que a vaidade confere ao falso autor.


Surgido o primeiro suporte para a escrita, surgiu a assinatura. Nas paredes das cavernas primitivas é possível separar o traço de um escultor rupestre do de outro. De lá para cá a escrita andou por placas de barro, paredes piramidais, papiro, papel.

Na era do papel as primeiras Academias surgiram. Se estas tivessem aparecido em 4.000 a.C. ainda teríamos que usar paredes de cavernas para ingressar em seus quadros?

O que interessa é o suporte, ou a qualidade do que se põe no suporte?

Na Academia Araçatubense de Letras, que me ocorra, temos três autores que imprimiram a história de Araçatuba: Odette Costa e Célio Pinheiro, em livro, e Angela Inês Liberatti, em quadrinhos. E isso nos dá vantagem sobre a Academia Paulista de Letras? Termos aceitado um cartunista antes dela? É evidente que isto é uma provocação, pois Angela é bem mais do que apenas cartunista, e neste sentido, sim, levamos vantagem.

Falando em cartunistas e historiadores, falemos de Pedro. Não do apóstolo que inspirou os pastores da Ágape a nomearem seu filho, mas do filho destes: Pedro Viana Mouro. Que tem dons.


Dom é coisa de Deus, mas fazer vingar a dádiva nem sempre é fácil. Depende de esforço e humildade, que Pedro usa com sobra, tendo para isso a sorte de ter bons pais, boa igreja, boa educação. Depende também de desejar esparramar aquilo que se tem em seu próprio interior. No caso de Pedro: os bons sentimentos. Mas isso independe do meio que se usa. Perspicaz, ele tem um ótimo blog. Vale a pena correr atrás de ver. Pedro é só um garoto. Teve, como poucos, a oportunidade de produzir um caprichado livro, em quadrinhos (bom como os do acadêmico da Paulista, como o da acadêmica da Araçatubense).

O que seria do dom de Pedro sem suporte? No livro/quadrinhos, em que publicou poemas, acróstico e passatempos também de sua autoria, desfilam capítulos completos, divertidos e curtos. Ali apresenta desenhos lúdicos, falas inteligentes, e segue desvendando a história mil vezes desvendada com a independência do bom autor. Nas particularidades do passado da cidade e graças do presente faz desfilar personagens interessantes, aos quais soube conceder idiossincrasias palpáveis e características definidas e plausíveis dando vida às próprias letras. Nem todos conseguem ser interessantes e inventivos na virtude.



O que seria do suporte sem o dom de Pedro?

E o que seria do Pedro se não tivesse onde e como pesquisar?

No verso da bem cuidada edição lê-se: Pedro Viana Mouro (autor e ilustrador), Henry Claudio Queiroz (diagramador), Clayton Kahn (fotografia), SOMOS (impressão). E as fontes: Academia Araçatubense de Letras, Célio Pinheiro e Odette Costa Bodstein (entre outras publicações deste jornal).

Então que bom que os membros fundadores teimaram em acreditar na criação da academia, que bom que acadêmicos são fonte e inspiração, que bom que o mundo evolui e jovens inteligentes podem fazer uso de variadas mídias, e variados suportes que têm ao alcance das mãos.

Que bom será quando pudermos dar oportunidade aos que não possuem quem lhes financie ingresso no mundo das letras. O talento não deve ser desprezado por falta de haveres. Somos a soma do permitido por aqueles que nos cercam. E as capacidades individuais devem ser reconhecidas sempre que assim fizerem por merecer.

Curiosidades:

* Este artigo foi publicado na coluna Tête-à-tête em agosto de 2011 com a Palavra: “E Simão, vendo que pela imposição das mãos dos apóstolos era dado o Espírito Santo, lhes ofereceu dinheiro, dizendo: Dai-me também a mim esse poder, para que aquele sobre quem eu puser as mãos receba o Espírito Santo. Mas disse-lhe Pedro: (...) cuidaste que o dom de Deus se alcança por dinheiro.” Atos 8. 18, 19, 20.



quarta-feira, 24 de agosto de 2011

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Tudo junto e misturado




Família-Escola-Livros-Educação! Tudo junto e misturado graças aos bons educadores, soberanos (embora sejam cada vez menos os corajosos a quem se dá voz e espaço) e às famílias ainda producentes pelas cidades deste Brasil. Araçatuba não difere, pois é de seus direitos que sobrevive o homem.





Saiu o livro “Introdução ao Ordenamento Jurídico”, do professor, Mestre em Direito Processual Civil, e doutorando em filosofia do Direito pela PUC de São Paulo, Fernando Rister de Sousa Lima.

No diálogo, entre Norberto Bobbio e a Doutrina Brasileira que Fernando faz travar, a obra, de alta consistência teórica, serve aos iniciados em Teoria Geral do Direito, Filosofia e Sociologia do Direito. Se esta é uma cidade que cresce todos os dias nas questões Legais, efervescente em suas Faculdades e Centros Universitários, e, tomara mais ainda, no estudo das Doutrinas Jurídicas, é porque bons advogados aqui têm fixado suas vidas, escritórios, e anseios.

Fernando (professor na PUC e no Unitoledo) nos apresenta uma literatura tão específica quanto relevante. O advogado, por trás da literatura, visa a evolução do Direito do Homem baseado na defesa, manutenção e valorização do ensino de conquistas intelectuais passadas. Louvável, já que não há como subir uma escada desprezando dezenas de degraus. O cérebro, essa máquina fantástica, pode sim saltar níveis, mas precisa sabê-los, vislumbrá-los, para calcular distâncias e riscos que o abandono de tais patamares possa acarretar para os profissionais do mundo jurídico, e, consequentemente para os clientes.

Nos últimos anos parece haver um esforço em fazer-se pouco de quem lê e estuda. Tentativa de idiotizar a classe pensante?

A facilitação do acesso a cargos diretores dos rumos deste país aos ignorantes e despreparados seria forma de ampliar influências aproveitando-se de sua inocência, bondade e pouca compreensão intelectual? Ou simples desejo de inibir a vontade da juventude intelectualmente capaz?


Estudar pra quê? Se quem ganha mais é quem estuda menos? Se os mais altos cargos independem do saber?”, talvez pensem.

Acha que essa mensagem não tem sido passada? Quem não têm competência para ver o que estão fazendo deste país, não deveria estar em posição de poder influenciá-lo.


Não há país, ou indústria, ou empresa, que privilegie contratar o despreparado.



Hã... Correção: há país, ao menos um, mas não há indústria ou empresa, nem mesmo uma que não exija formação adequada.
Ensino sucateado, escolas prontas à espera do início do longínquo horário eleitoral para serem inauguradas, direitos e salários dos professores reduzidos, liberdades infantis aumentadas, acesso às drogas facilitado.


E se gerenciar e organizar não é para qualquer um, educar muito menos! Ou a incompetência é tanta que não se enxerga que a vontade de exterminar o desenvolvimento das mentes brilhantes anda por aí com a altivez de coisa correta?








Pense no que tem sido promovido na vida privada e nas liberdades individuais do homem brasileiro.





Só pessoas instruídas são capazes de enxergar, e unidas se opor às inversões de valores e às invasões sistemáticas.




E se a união é conquista rara, quem é capaz se expõe orgulhoso de si.


Flávio Zani Gonçalves, um jovem jornalista, repórter atuante no telejornalismo araçatubense, é produto de boa família, professores e escolas. Ideais corretos lhe foram ensinados. A força de vontade, claro, nasceu com ele. A valorização dessa soma foi garantida por pessoas que antes dele receberam esses ensinamentos de outros também valorosos.
Flávio escreveu O Poderoso Arlequim, produto de pesquisa e dedicação. E acaba de lançá-lo. O romance, esforço e fé na conquista do sonho, vale a leitura.




É questão de repetir: É de seus direitos que sobrevive o homem.


Que venham muitos bons escritores. E que se lembrem de valorizar as instituições que nos mantêm fortes, em família, com fé nos bons preceitos morais e éticos, e gratidão aos bons educadores.

Curiosidades:

*Publicado, no caderno Vida, Folha da Região, coluna da UBE: Tantas Palavras


O BOI, A EXPÔ, O SEIS & OCÊIS

“O boi conhece seu possuidor, e o jumento, a manjedoura do seu dono (...)” Isaías 1.3

Seis. A justa medida do progresso no ano de 1.919. Seis metros, “de largo”, abertos na então densa mata paulistana, ligando esta cidade¹ ao rio Paraná, rumo a Três Lagoas. Estrada boiadeira, da boa poeira vermelha.


Vermelha como a carne por onde corre o nosso sangue. Vermelha como a cor do alimento fundamental propulsor do cérebro humano, fonte de ferro e de proteínas de alto valor que nos livra da anemia, origem da vitamina B12 que garante a manutenção do sistema nervoso central.




Vamos combinar? Sem preconceitos! O pecado está na gordura de qualquer carne: branca, vermelha, cor-de-rosa... Sei... Cê tá pensando naquela gordurinha tostada e crocante que salta do churrasco de picanha? Pode parar! Ah, tá bom... Vez em quando “pooode”!



Tal gordura, bruta de boa, anda mais condenada do que Chico Buarque e Milton Hatoum, na coluna do Mainardi. Pode? Dois de nossos ícones literários destronados sem a menor cerimônia, por sentença da escritora irlandesa Edna O’Brien, durante a Festa Literária Internacional de Paraty. Rugas “mís” de preocupação.

Maior inquietação é a de quem tem colesterol alto.



Aí podemos sempre optar por cortes menos gordurosos como o coxão mole, o lagarto, o patinho. Já o filé mignon, paixão dos Chefs, porque insosso, presta-se ao sabor de sortidos temperos. De todo modo, qualquer porção crua, cozida, frita, assada, em bifes, tortas, bolos ou bolinhos, fica deliciosa.





Voltando à vaca fria, a tal estrada boiadeira (somada a certa balsa capaz de trazer à outra margem do caudaloso rio, de um fôlego, cem bois) teve muita importância.



Valorize-se a visão e o empenho de Bento da Cruz. Por causa dele, das famílias fazendeiras e dos muitos mascates e comitivas de burros, Araçatuba, virada pólo pecuário, tem hoje a maior exposição de gado Zebu do estado de São Paulo; porque há cinqüenta anos oficializou-se o primeiro grande evento agropecuário desta cidade, que desde então só fez crescer e modernizar-se, acabando em festa – que é como vivemos a vida.

Que nos importa a adstringência de outros continentes? Somos jovens de cento e dois.

E tome festejos cinqüentenários³.


Ainda bem que O’Brien² não foi ao jubileu musical de Roberto Carlos. Creiam, já houve quem quisesse aviltar o Rei, assim como agora a Chico e a Hatoum. Que dizer do pobre boi, e sua doce carne, sem pena para escrever ou voz para cantar? Coisas de estrangeiros.


A carne bovina tem para americanos e europeus um alto custo. Eles não possuem nossa vastidão agricultável e outra imensidão, menos fértil mas ainda fértil, própria para pastagens; muito menos o nosso clima “em-se-plantando-tudo-dá”. Nem pasto que sobeje pra churrasqueares e festejares da lida a qualquer “dá-cá-aquela-palha”. Sem poderem concorrer o que bem sabem fazer é desmerecer nosso melhor.





Se a crise mundial os fizer voltar a tentar bater com força na produção e no consumo da carne bovina, usando os mais variados e sutis subterfúgios, saberão que aqui a vaca jamais irá pro brejo: nossos burros, tocando o gado, atravessaram rios, ganharam estradas, venceram negócios; já os burros deles deram n’água.


Como diria o mineirinho em certa piada: “ocêis pode inté achá qui nóis é burro, mas quem anda perdido são ocêis”.


CURIOSIDADES:
• Este artigo foi publicado na Folha da região em julho de 2009 na coluna Tête-à-tête.
• Portanto, desde pelo menos 2009 a campanha dos nada literatos para minimizar a qualidade literária de Chico Buarque já havia sido iniciada.

1: Araçatuba
2: Diogo Mainardi afirmou em crônica de julho de 2009 que:"Edna O’Brien foi arrastada a um encontro entre Chico Buarque e Milton Hatoum. O que ela afirmou, assim que conseguiu escapar do encontro? Que Chico Buarque era uma fraude. O que ela afirmou em seguida, durante o jantar? Que se espantou com a empáfia e com o desconhecimento literário dos dois autores"
3: Notem que era tempo de tremas. Quando ainda não tremias de medo a seres obrigado a gostares das mudanças ortográficas "como nunca antes neste país". "Veja...", era tempo "de que" não havia "discriminação lingüísticas"

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

SONETO DA HOSPEDEIRA


Germinando deitou muitas raízes,
sob este olhar solar de tanto espanto.
persuasivo a rogar o meu deslize,
cio vegetal, clorofila em prantos.

Pela estranha surpresa que causava
ascendeu, qual se seu meu corpo fosse,
aderiu, como se o fruto mais doce
serpeasse em meu colo e em minha face.

Eu, já suporte dessa força bruta,
fiz de mim a treliça transtornada
que em troca do veneno aliciante

devolvia por gota destilada,
em retorno ao que apelidou de “nada”,
a doçura que ousei chamar de amor.

Cecilia Ferreira

Curiosidades:

* Desafiada a um soneto: ei-lo.
* Os bons sonetistas são tudo
(semtudo mal me atrevi a este).
* Livro: Vinhos; em: Cítricos

sábado, 13 de agosto de 2011

LIÇÃO DE JARDINEIRA (Cecilia Ferreira)


Situação: prejudicada qualquer possibilidade de sereno retorno ao lar, por ineficiência do funcionário da Viação Prestígio e por excesso de autoconfiança da passageira.

“Tudo nesta vida tem jeito!”

Jeito: encarar a jardineira.

Jardineira: palavra muitas vezes pronunciada de maneira depreciativa.

“Onde é que fui me meter?”

Agora era a via-crúcis.

Dissera adeus à viagem confortável em ônibus com janelas em vidro fumê, bancos reclináveis e ar-condicionado. Um quase passeio, sem paradas, que teria resultado em adequadas duas horas de relaxamento.

“Já este...”

Previamente desanimada, olha para a inscrição na janela frontal do veículo que lhe cabe, checando origem e destino.

Letreiro: Goiânia – Campo Grande.

“E ainda dá essa volta pelo interior do noroeste paulista?

Horror. Certeza de vários passageiros fazendo o trajeto desde o seu início e muitos seguindo até o ponto final. Qual o total daquelas horas de tortura? O que pensam os que com ela aguardam o momento de embarcar?

Companheiros: suposta fila, enrolamento de corpos.

Mantém certa distância das pessoas que, pela aparência, não inspiram
nenhuma confiança. Em torno, esperando o ingresso ou o retorno à clausura, faces retorcidas e corpos ressecados como árvores nascidas em solo árido. Sobe os degraus do carro.



“Até que enfim!”

Em seu bilhete não há numeração de assento.

Motorista: “Senta em qualquer lugar...”

“Essa é boa!”

Caminha entre os bancos procurando um companheiro menos assustador, de preferência mulher, como ela.

Surpresa: no final do carro dois assentos contíguos vagos.

“Poltrona do corredor! Deus me livre de ficar encantoada...”

Medo: sabe que logo alguém se sentará ao seu lado.

Sorte: menina novinha, aparência de dezoito, criança de ano e meio ao colo, carregada de cobertor, travesseiro e sacola com as mil tralhas da filhinha.

Mãezinha: “Licença”

“Spera, deixa eu me levantar”.

Sorrisos. Alívio. Agora sim a viagem pode seguir sem tantos sustos.

Viagem: jardineira rodando sem a mínima preocupação com o bem-estar humano irá deixar passageiros ao longo do caminho, escoando-os como em frestas de balaio. Farinhando farinháveis. Descarregando e recarregando.

Carga: nossa pobre classe café com leite, pelo censo chamada média; pela mídia chamada pobre; classe sem classe, fora de moda, e ainda assim, classe muda.

Feições deterioradas pela fome, angústia deformando posturas, higiene sem qualidade que enfeia, deixa vestígio, macula. Nem se pode divisar a luta para viver dignidades.

Trajeto: brincadeiras, generosidade, companheirismo, solidariedade, de todos para com todos.


Sofre a sensação da indignidade do julgamento fácil, da timidez de possuir tão mais. Na necessidade de pedir perdão por seus pensamentos germina seu querer; também pode ser companheira.

Evolução: alcançar simplicidade, humildade, cortesia e capacidade de ser feliz por ser feliz.

“Parece tão natural para eles.”

Véu, agora brisa, descortinando a enganosa estampa daquelas figuras, agora gente. Nasce a inveja às avessas. Boa inveja.

Percurso: gostoso o tempo correu.

“Vou ficar por aqui. Gente, boa viagem. Obrigada.”

Desce. Lição no bolso.

“Deus, que eu não me esqueça desta aula!”


Jardineira: caixa onde se plantam flores.

“Tá lá no dicionário.”





Cecilia Ferreira

Curiosidades:
* Este conto foi publicado na revista Plural da Academia Araçatubense de Letras e no Livro Contos Escolhidos / 23º Concurso Nacional de Contos Cidade de Araçatuba.
• o ônibus que dá toda essa imensa volta existe.
• a viação e os personagens são todos produto da imaginação desta autora.
• esta autora gostaria de lembrar-se todos os dias que os seres humanos em sua maioria são flores.
• esta autora sente que as muitas flores nacionais andem sufocadas por algumas poucas ervas daninhas.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

SEGREDO

















“Pist, é um segredo!”
Murmurava o medo.


Sossega, desordenado,
aonde vais tocando bumbo
como fosse carnaval?

Ouve a voz,
pausada e tranquila,
da mulher a quem pertences,
vê como aniquila
o tremor inconsciente.

Percebe que ela ignora
toda a tua agitação,
se demora nas palavras,
controla o tom e as passadas,
como não houvesse nada,
ânsia, sonhos, vontades,
além do controle das mãos?

Nota onde ela as coloca,
sente a delicadeza
e que os dentes, tão alvos,
não se aviltam como presas
e essas unhas, de macias,
nem mostram
as garras que são...


“Pist”, murmura o medo,
“o que é isto, coração?”










CURIOSIDADES:
• Poema do livro VINHOS (subdivisão: Mélicos)
• Autora: Cecilia Ferreira

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

CRIME E CASTIGO

“O ímpio recebe um salário enganoso, mas, para o que semeia a justiça, haverá galardão certo.” (Pv 11.18)

Em Crime e Castigo, livro do russo Dostoiévski, o personagem principal, Raskólhnikov, é um ex-universitário inteligente e sem recursos que, numa teoria toda própria, convence-se do direito ao crime. Acredita que num estágio de superioridade é permitido esmagar um indivíduo inferior desde que essa morte beneficie a sociedade.

Assim o personagem mata para roubar; mas termina por se entregar, porque seu verdadeiro castigo está na culpa e na tortura psicológica que o assalta em pesadelos e horríveis delírios. Eis o homem dividido em sua contradição.




Talvez isso ocorra na vida pública. Talvez após a eleição, ou mesmo antes, o dinheiro fácil e sem dono aparente faça algum candidato vacilar entre o idealismo e a ganância.





Para o eleitor a cidade é sua casa e quem cuida dela deve limpar, ajardinar, asfaltar, manter, promover escolas, projetos sociais, ampliar postos de saúde, hospitais, equipamentos, etc. Mas, sem moral, candidato eleito é igual a eleitor sem poder.








Como descontar as horas não trabalhadas, o asfaltamento não cumprido, o local de lazer não proporcionado?














Descontemos na fonte em que bebe o Leão.

A escola não cumpre o seu papel?
















Dedução.











As estradas não funcionam?









Que o governo dê Adeus à TRU...












Afinal, quem falta ao emprego é descontado, ou demitido, não?

Vai faltar caixa?

Abatimento neles! Um bocadinho a menos no salário de prefeitos, vereadores, deputados, senadores...

Eles nos devem a obrigação de equilibrar as contas.

Não foram eleitos para usarem o seu dinheiro em cabide de empregos, reeleição e outros desvios.

E se o político não cometeu peculato, mas se cala e não procura impedir as desonestidades é ineficiente ou conivente. Menos salário nesse também!





Ah, se sonhar solucionasse problemas!











Como castigo é coisa de romance, e os crimes existem, devemos lutar com as armas que temos.

Por exemplo, pesquisadores de diferenças entre os sexos, constataram que o homem é capaz de mentir cinco vezes mais que a maioria das mulheres, e que estas têm dez vezes mais capacidade para detectar mentiras.

Se as mulheres, que equivalem à metade da população, usarem seu dote em farejar mentiras para selecionar candidatos ou candidatas (que mentem cinco vezes menos, mas também mentem) a coisa toda vai melhorar.




Porque, errar é humano, mas, vamos e venhamos, reeleger a escória moral capaz de cometer toda sorte de abusos e desvios financeiros e éticos é culpa exclusiva de quem vota.






E se castigo, não vem mais a cavalo, poderá vir a voto.






Voto impensado é crime? Pode não ser, mas a rapidez do castigo mudou.



Não vem mais a cavalo, vem nas ondas.





Vem em ondas mais rápido do que a cavalo, digo, a urna eletrônica impensada ou interesseira é o castigo do eleitor.




Votemos bem.


Curiosidades:

• esta crônica, de Cecilia Ferreira foi publicada no jornal Folha da Região em abril de 2008;
• de lá para cá ainda não aprendemos a votar?;
• se sim: que pena que esta crônica esteja cada vez mais atual...