quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Fraterno amanhecer*



















Estás agora acima.
Acima dos prados, dos campos,
das estrelas, dos pirilampos.
Muito acima das dores da vida
que te roubaram.

Eu?
Perduro, para além do desejo
de acompanhar-te,
para a graça
dos que tanto amo,
para o grito que solfejo.

Se o universo perdeu o sentido?

Não.
Continua lindo,
exato como enxergavas
e, assim, para os outros
que têm modos,
desses,
como os teus,
de ver além
da frialdade das coisas,
além dos homens,
insanos,
além da ineficiência
daqueles que se consomem
em desejos cotidianos.

O mundo ainda tem a beleza
que afirmavas pertencer
às paisagens,
aos alimentos,
às estações dos trens,
do tempo,
dos ventos
nas quebradas das montanhas,
quando os teus olhos,
sinceros,
escondendo a dor tamanha,
tinham boca de dizer:
amanhã estarei bem,
falta o dia amanhecer.

* Cecilia Ferreira

4 comentários:

  1. Acho que foi daí que o músico saiu com a canção que diz: O dia amanheceu tão lindo, a natureza amanheceu em flor e....

    ResponderExcluir
  2. Sensório e nostálgico poetizar! Como sempre, emocionei-me, Cecília.

    ResponderExcluir
  3. Antenor, vou ter que confessar, esse é um dos poucos poemas (meus) que me leva ao choro toda vez que o leio.

    ResponderExcluir

Que bom que quis comentar. Pode esperar que logo respondo. Obrigadinha.