quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Saudades Femininas*



Quero ser avó.

Uma avó cheinha,
bem enrugadinha,
como foi a minha.

Avó jardineira,
rescendendo a rosas,
hortelã, cominho,
dálias, margaridas,
que, de tão querida,
será Vó somente.

Vó que na cozinha
fará tortas,
certas,
de maçãs,
de nozes,
biscoitos de nata,
amêndoa,
canela,
cravo, coco, açúcar...,
sabendo a farinha
como soube a minha.

Quero ser avó.
Uma Vó apenas,
das que faz crochê,
mantas de tricô,
de matelassê.

Vó.

Avó,
a penas
de colo macio,
bochechas rosadas,
cabelos nevados,
trazendo pintinhas
no rosto
e nas mãos que curam,
sustentam,
e muito acarinham,
como fez a minha.

Vó,
assim, caseira,
sem vãs vaidades,
nada esticadinha,
e sempre coquete.

Vó, de juventude
interna e inteira,
que a dignidade
venha envelhecer.

Quero ser avó
que a ninguém assusta,
daquela que encanta
e sabe ser justa,
que aos filhos conforta,
que aos netos escuta;
mas que faz folia.

Vó, com energia,
que não preocupa,
de quem da garganta
ouve-se, em poesia,
toda a melodia
de quem viveu bem.

Vó que, anoitecendo,
seja como as cinzas,
leve e descansada;
pois que foi fogueira
quando menininha.

E que um belo dia,
sem incandescências,
no aura da aragem
toda feito avó,
na alma aninhada,
seja pura Vó
do peito de alguém.

Como inda é a minha.

Isso é alegria
Isso é tudo, e só.


* Cecilia Ferreira



10 comentários:

  1. O nome da minha avó é Dinha. Outro nome há em seu resgistro, Mas o " Dinha" está registrado na minha alma.
    Era severa, a velha. Criança pra ela não podia dormir, desobedecer, tínhamos que trabalhar cedo. E nos colocou na lida ainda na infância senão o pau comia e ela batia mesmo. Mas é uma boa bisavó. Presenteia hoje o que não deu para os netos. Os pães que a Dinha fazia eram deliciosos, mas ela os escondia dentro de uma mala de roupas. Hum.... aquelas roupas tinham um cheiro gostoso de pão...
    Ah, morávamos na casada dela, por isso devíamos obediência.
    Devo muito a ela, ajudou-nos a sobreviver.
    O que eu digo sobre ela, às vezes, é mais para tirar o sarro do que para criticá-la. Mas ajudou a minha mãe a educar os filhos.
    Conseguiu com os meus irmãos. Comigo, passou longe...... kkkkkkkkkkkkkkk

    Ainda bem que ela foi o que foi, foi muito bem o que foi, senão nem histórias de avó eu teria pra contar.

    Viva a Dinha, a minha avó querida!

    Rita Lavoyer

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  2. Rita, tudo o que for por amor vale a pena, ja cantava Milton Nascimento! Toda maneira de amor vale amar! Bjnhs (a minha Dinha era uma madrinha carinhosa, severa, teimosa e querida... nada a ver comigo? r****)

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  3. Eis aí, um sábio ensinamento para as mãezinhas serem avós com galhardia. Parabéns, Cecília!

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  4. Ola Antenor! Obrigada por sempre expor a sua opiniao. Abraco.

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  5. Por falar em avó, vim cedo morar com a minha e minha tia Elza Brito Zonetti, pois o meu pai não saia da roça de jeito nenhum. Eu chegava do fervo tipo meia noite ela perguntava :
    -tá com fome, filho?
    -Não vó, vou tomar um banho e dormir.
    Quando eu saia do banheiro tinha um prato com bolinho de chuva e chá na mesa. Nunca perdi um ponto no Tiro de Guerra. Ela sempre me acordava.
    Eu às vezes penso que nunca um neto foi tão amado quanto eu...e nunca alguém amou tanto uma avó.
    Por falar em avó, ela sempre me dizia: Filho, O Sido Sério vai ganhar a eleição pra prefeito mas depois vc não vai encontrar umzinho que votou nele.

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  6. r******* Muito bom rir assim logo cedo. Fala Serio, mas quem votu Serio? Verdade verdadeira! Depois esse desgoverno quer nos convencer que honra as urnas eletronicas! Mas, vo, madrinhas, tias sao invencoes das alegrias de se viver. O GE podia fazer um Experimentanea de historias dessas amadas aparentadas e o pioneirismo Aracatubense, ne nao?

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  7. CONFISSÕES:
    Em tempo, meus queridos comentaristas de blog: Rita Lavoyer, José Hamilton Brito e Antenor Rosalino, minha avó paterna morreu antes que eu nacesse, minha avó materna faleceu eu não tinha três anos, a mulher que criou meu pai, segunda esposa do meu avô,foi avó queridíssima, mas, elegantíssima apesar das muitas gestações,nunca foi cheinha, e com 52 netos sobrou pouco colo para todos.
    Deem algum crédito a esta autora (risos). Só tenho dois poemas autobiográficos e um deles é Memória, que está postado no blog.
    Bjks
    PS: Um dia escrevo uma crônica sobre as maravilhas da minha avó Maria (Maria de incríveis qualidades que como uma luva, perfeita, se presta aos melhores poemas e aos maiores elogios.

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  8. Quisera ser um comentarista a altura do seu potencial literário. De qualquer forma, fiquei feliz com a inclusão do meu nome neste comentário e de saber um pouco mais de você. Grato!

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Que bom que quis comentar. Pode esperar que logo respondo. Obrigadinha.