quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Dúvida pra que te quero?





Como exigir que todos me achem o máximo se há dias em que não suporto de mim o mínimo?

Autoria



O escritor sente o mundo com força personalista. Se impressionado, nele se confundem as emoções do entorno e do universo particular, consigo ou pela extensão de terceiros, afluindo em semelhante intensidade.

Seria por isso a rima de tantos termos sensíveis com a palavra Autor, Percepção, Sentimento e... Ironia?

Amor adolescente...





Os meus olhos não podem ver

o que o seu coração esconde

se os seus não querem ver o

que o meu anda exibindo...

terça-feira, 29 de novembro de 2011

É fogo... (ou auto-aconselhamento)


As palavras podem ser leite esquecido sobre o fogo e transbordar incontinentes.


(Instruções de uso do verbo,
em caso de fluxo extremo:
procure o botão correspondente
e baixe o gás)

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

CARPE DIEM



O nosso querer, tão exercitado sob o sol ardente, o que teria sido sem os mil desvios de pensos percalços?

O que teria sido desse amor amado se ele se ausentasse ao ser desafiado a rolar ladeiras? E, no estagnar-se doce, fragilmente, em largos remansos, se esquivasse aos gansos que nos atiraram pelas corredeiras, nos tornando carpas em vis ribanceiras refletindo ao sol o brilho das dores de esforço e prantos por mais de uma vez?

Mesmo quando houvera apenas uma escolha na desconhecida alameda à frente cheia de declives, mas de ascensões, sem essa saída o que teria sido o tempo vivido?

Dos, meu e seu, corações, se unir não fosse meta, vez a vez que um e outro sustinha, minha ou sua, sua ou minha, quando um de nós se detinha diante das grandes questões: quem eu sou?, onde é que estou?, aonde é lindo?, o outro vem vindo?, o que é que eu quero?, como se guarda a memória na garganta, que hoje é tantas?

Sua vida é meu pleito e minha história. E essa nossa lida, que de nós se encanta por esse querer, soa tão bem como a afinação fazendo sorver cada grande susto, traz o mundo justo, em encaixe perfeito, eu na minha forma, você no seu jeito, eu dentro do seu e você no meu peito.

Cecilia Ferreira
28/11/2011

sábado, 26 de novembro de 2011

CULPA NOSTRA

“(...) o governante inquire, o juiz se apressa à recompensa, o grande fala da corrupção da sua alma, e assim todos eles são perturbadores.” Miquéias 7.3




Certa vila cresce, e é só felicidade.

Feliz Cidade terá governo próprio, de acordo com seu júbilo, trabalho e criatividade.

“Que maravilha!

Cidade modernamente auto-sustentável.

Ah, são muitos os possíveis bons dirigentes...”.



Homem proeminente,

Naumprobo,

descarta a candidatura para não ser pivô de alguma tola questiúncula,

mas ajudará na campanha do que trouxer a futura câmara nas mãos porque, conforme diz ao Conglomerado Empresarial, não quer correr riscos:

“E se aprovam lei que obrigue minha empresa a retirar-se da margem do rio que atravessa Feliz Cidade? Meus dejetos nem são tantos assim!”.



Narcisastro,

já astro e ocupado,

do alto de sua Empresa Comunicacional informa:


“Sarna administrativa? Quero não, mas, mui gentilmente, ofereço meus

noticiários para promover a imagem do escolhido. O povão saberá por nós

quem é o melhor!”.







Já o possuidor de quase toda a educação privada de Feliz Cidade,
Infulgêncio, afirma: “Gostaria muito, óbvio, mas tenho família, não quero
ver meu nome em boca de Matilde”.









Alguém sugere Aquiles, reconhecido por sua honestidade, decência e
capacidade de trabalho, que, além de amar o lugar de seu nascimento, manja
de administração.






Ah, agora sim!

Não?!

Não!






A recém-criada ARBI, cujos associados também pertencem à ACPCPC

Associação de Candidatos a Preencher Cargos Públicos e de Confiança), não

aprova ao concluir que:
a) Aquiles já é rico, não precisa de cargo remunerado;


b) Aquiles já é bem relacionado, não precisa ser reconhecido;


c) Aquiles não é dado a fazer acordos pessoais o que dificulta
muito qualquer futura, digamos, acomodação das partes interessadas;


d) E, isso de Aquiles ser de fato honesto, bem intencionado e decente de

verdade talvez nunca possa ser provado e, portanto, esses calcanhares,

digo, essas características inúteis não preenchem os pré-requisitos de

cargo tão necessitado de altas qualidades e patentes.



Diante dessas premissas o Conglomerado também veta a escolha de
Aquiles: “Afinal, quem pode ser mais pernicioso que um sujeito que não se
sujeita?”, perguntam à boca pequena.


Cidade, agora gerida por representantes da Associação de Repressão aos Bem
Intencionados, tem novo desafio (promoção da própria ARBI): encontrar para
Feliz Cidade um nome à altura de sua evolução.

Ah, sim! Para participar do concurso, cujo prêmio está estabelecido em 500

mil dinheiros, é necessário ser associado da ACPCPC.


Curiosidades:

* Ainda não descobrimos qual partido político está se perguntando "do que a CIDADE PRECISA? "para escolher seus candidatos.

* Destino de Feliz Cidade, a continuar assim? (vide foto)



* Tendo sido publicado há algum tempo pela Folha da Região, na coluna Soletrando, e aproximando-se as próximas eleições, pouca coisa mudou.

* Este artigo não ofende os bons políticos, portanto se você é político e se ofendeu você não possui os requisitos ideiais para representar o povo.

* Se você, como eu, é apenas um eleitor mal representado façamos juntos os nossos votos de bom futuro pela boa escolha: Que encontremos armas do bem para combater o mal do mau político!

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Passando a limpo


O que garante cada futuro
é todo o seu passado.

Sem rodeios:
nas escolas, houve um tempo, em que
tudo e tudo
era
passado a limpo.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Você Decide

"Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. João 8.32.







Tão valiosa quanto a liberdade é a palavra. Uma e outra se fundem de tal forma que o primeiro ato de um tirano é confiscar a liberdade de expressão: “quando as palavras perdem o significado as pessoas perdem sua liberdade” (Confúcio).


Toda forma de servidão vai contra a vontade do Senhor. Pouco importa se alguém diz ter fé e com fiéis caminha se as atitudes forem as de um ateu. Também não se pode esperar perfeição, todos erramos. Jesus foi o único homem (por ser mais que homem) capaz de ofertar e se doar sem nunca exigir retorno, ou se ofender com ingratidões.


Aquele estranho e-mail ensinava: capturam-se porcos selvagens colocando-se comida num mesmo lugar da floresta todos os dias. Deixe que se acostumem. Construa uma cerca de um dos lados. Sirva mais comida. Com o passar do tempo faça mais um lado. Sirva sempre o alimento. Faça o terceiro lado. Mais comida e os bichos já não querem correr atrás do ganha-pão. Está lá, fácil e gratuito. Ao fabricar o quarto lado da cerca não se esqueça: coloque uma porta. Mantenha-a aberta e continue a apresentar o benevolente self-service. Ao vê-los cercados e distraídos, feche a porteira.


Convenhamos, tentarão pular a cerca, mas, diante da facilidade do sustento, a escravidão acabará por lhes será cômoda. Claro, uns poucos insistirão na fuga, porém isso apressará seu envio ao matadouro.


Teria sido fácil notar a construção dos pedaços de cerca, se os animais a serem dominados não tivessem suas percepções desviadas por súbitos subornos adornados com indulgências. Depois das liberdades surrupiadas importa o regime político?

Autores, mais recentes que o filósofo chinês citado acima, já lutaram contra o que está prestes a ser reinstaurado. Gil, mesmo sendo ministro, e Caetano que gosta de caminhar “sem lenço e sem documento”, se percebessem o porvir, se indignariam: “As pessoas da sala de jantar / são ocupadas em nascer e morrer”.

Se o portão se fechar, a cerca só cairá quando o “dono”, por alguma razão (geralmente uma má administração daquilo que ele próprio conquistou), não puder mais oferecer milho gratuito. E, depois do ato consumado, naquele dia, restará entoarmos com Chico: “Apesar de você / amanhã há de ser / outro dia...”. E, se acontecer, será pela fome que o comodismo e a atual desunião cidadã cairá. Juntamente com a cerca.

E você? Prefere o lado de dentro, o de fora, ou que nem se construa o tal cercado?

Enquanto você decide, eu espero não ter que obedecer à afirmação do provérbio iugoslavo: “Diga a verdade e saia correndo”.

Curiosidades:

* Este artigo foi publicado há aproximadamente três anos...
* A cerca está quase pronta para ser fechada...
* Qual a isca que estão usando para manter os porquinhos menos iguais do que os outros tranquilos e sem vontades na Cidade Sol?
* Quantos porquinhos mais iguais do que os outros são necessários para manter a "Máquina de Mante-los" - no poder - azeitada?
* Leis são feitas de palavras, mas se foram criadas para benefício dos que se locupletam onde está a liberdade?

Amigo é pra todas as coisas


O bom do amigo não é que, com ele, vc nunca erra,

é que com ele o perdão sempre vem.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Saudades




Saudades são como baratas?


Feitas para serem mortas...











Quando isso não acontece é porque algo fugiu ao controle.

domingo, 20 de novembro de 2011

SOBREVIVÊNCIAS


O homem nasce. Se tudo der certo vive. Principia a vida dependente de outro ser humano; idealmente de dois seres humanos, que a sociedade evoluída convencionou chamar pai e mãe.


Um dia o homem, pela independência que fatalmente virá, descobre que vive. Aprende que a humanidade está com os pés sobre a terra há anos, que os homens chegam e partem, que alguns deles pressupõem a existência de uma outra vida, ou não. Avalia que para crer é preciso fé; porque não há quem torne o outro lado palpável, ou o explique com todas as letras. Se for culto e um bom leitor ficará sabendo que a ciência, a filosofia, e a religião não têm explicações factuais para a maioria das questões existenciais e que a mais crucial, entre elas, tem se mantido inexplicada: existimos por quê?







Mas, se não resolve essas grandes questões, reconhece a condição básica da passagem pela terra: sobreviver.








A sobrevivência perfaz um mesmo ciclo para todos os seres vivos: gastar energia a cada ciclo solar encontrando uma forma de renovar essa mesma particular fonte, descansar para armazená-la, e voltar a gastá-la e reavê-la para mais vinte e quatro horas. Isso é tudo o que sabemos. Enquanto a ciência segue afirmando algumas coisas que não pode provar, como a inexistência de Um Criador Onipotente, os filósofos seguem buscando origens e finalidades por detrás da noção básica de sobrevivência, como se ela nada explicasse e não devesse nos bastar.


Essa procura acontece porque filósofos ao deparar homens na insistência de alcançar mais do que o necessário para subsistir (sem se importar se o outro, ao seu lado, está morrendo de fome) consideram, modernamente, que o homem está buscando a felicidade. Confundem-na, dependendo da época histórica, com busca moral, ética, com a conquista do dinheiro, da posse, do poder...
Mas, assim como sobrevivência se alcança todos os dias (porque para isso fomos programados), felicidade eterna terrena jamais será encontrada, porque ela se embute na própria sobrevivência. E, como a existência animal prova, isso é algo a ser reconquistado ao longo de cada novo dia.


Tomemos os animais irracionais como exemplos. Eles não têm a menor noção do conceito de ética, moral, felicidade. Mas têm de posse. Posse de território de caça, posse de fêmea ou bando delas, posse de espaço que se lhes é comparável a lar, seja ninho, seja gruta, seja determinado espaço de solo, ou circunscrição de árvores. E por quê? Porque, atentos aos seus instintos naturais, poder para eles é apenas igual a sobreviver a cada dia e por mais tempo.


Um território, ou casa, bem protegido é lar; lar é segurança; segurança é sobrevivência. Um território bem delimitado é reserva de alimento; seja a ser caçado, ou a ser ruminado; alimentação é sobrevivência. Um território bem guardado é local de descanso para reaver energias, e isso equivale a ter energias para caçar, ou ruminar, no dia de amanhã, o que representará mais um dia de sobrevivência.


De que nos valem cálculos que nos levam a fazer edificações incríveis; foguetes que nos passeiam pelo universo, que se tem comprovado infinito; computadores que nos contatam com o outro lado do globo em segundos, se não somos capazes de administrar a única superior diferença que poderíamos ter em relação aos animais?


A diferença entre o que nós sabemos e o que os animais sabem será ínfima se não formos capazes de nos preocupar com a sobrevivência de outro ser humano. E não falo de igualdade porque isso é desejar demais de nossa animalidade.


Por isso, a menos que os bens excedentes sejam “doados” publicamente (equivale a imposto), e respeitado pelos eleitos (equivale a “poder” público), para serem aplicados em prol da comunidade como um todo (equivale benfeitorias), nada nos separará dos animais irracionais, pois a nossa sobrevivência se dará exatamente como a deles: sem afeto, caridade, educação, ou inteligência.


* Crônica de Cecilia Ferreira publicada na coluna Tête-à-tête, Folha da Região, 20/11/2011

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Poeminha (pra inglês nåo ver)



(calou fundo, calei-me:
não há mal que calcine o bem;
já o caruncho consome
o próprio lar. Amém?)

Eis a palavra de ordem 
(feita em surdina e sem progresso): 
Aplaudam os mais desonestos! 

(vaidade, orgulho e pompa,
nenhuma circunstância,
fachada populista
fecha a recheadura
plena de carcoma).

E toma Brasil, toma!
Pega caraminguá,
toda sorte de esmola,
nem precisa
trabalhar!

(revanchismo 
cabrestante
neste quartel de Abrantes;
quem não sabe 
ver qual é
que nunca se alevante).

Cecilia Ferreira

terça-feira, 15 de novembro de 2011

DA GRANDEZA ou PEQUENEZ




Comigo um livrinho, que dito assim no diminutivo pode parecer menor de fato.

Mas não.

O sufixo cabe-lhe porque, o presente, guardado na prateleira que reservo aos carinhos literários, tem 20 X 10 cm. O tamanho de um flyer (ah, o não abrasileirar das preferencias propagandistas; irresistíveis antigos namoros com a língua francesa, hoje amasiados à inglesa).

Sem dedicatória, do pequenino não retirarei o clipe com recado: “Entregar para Cecilia Ferreira – Do Dr. Lourival”.

A editora o classifica e denomina: “Coleção: Presente de amigo”. Seguiu à risca o recomendado pelos impressores. Mesmo assim acuso o Lorico – companheiro do palestrear com as letras; que despretensão: deixou a inestimável recordação na portaria da Academia Araçatubense de Letras.

Trago a “Carta ao pintor moço” de Mário de Andrade entre as releituras, como venho de velar o carinho que teve o médico confrade, e o deposito entre as dobras celulares em que a gratidão se aninha.

Mário de Andrade, não por acaso é senhor da cátedra que ocupo na Academia Araçatubense de Letras; e isso é resultado de história. História que vem dos tempos da 2º Grande Guerra Mundial. Dos tempos em que Getúlio Varas, vingando-se de Geraldo, um jovem escritor universitário, enviou-o a desmontar minas. O civil estudante paulistano de dezoito anos foi abrir, com o corpo, caminho entre as bombas para um batalhão formado por militares especializados.


Geraldo de Camargo Vidigal, então poeta nascente, que entre as Arcadas do Largo de São Francisco escrevia contra as agruras do regime ditatorial, foi saltar de paraquedas sobre lutas na Itália. Ele e dois outros civis escritores (um de Minas, outro do Rio de Janeiro) viram-se diante da imposição que a falsa grandeza faz flutuar nas pessoas diminutas.
Naquela época havia alguns desses homens, quase nada, que se julgam com direito a tudo. Época de Hitler, Mussolini, Getúlio. Homens que ocasionalmente ressurgem sob novas alcunhas e disfarces de probidade.


Como revanche de soldado civil, de volta da punição imposta pelo ditador, Geraldo disse: “... como se pudesse ser um castigo servir ao Brasil”

Mas onde a história de Geraldo cruza a de Mário?

Alcides da Costa Vidigal, advogado, administrador, fundador da COSIPA, pai desse estudante, vendo o filho ser enviado para morrer à frente do pelotão, recolheu todos os poemas deste e, premonitório na imortalização do filho, enviou-os a Mário de Andrade; ato que deu luz ao poeta que viria a integrar a Academia Paulista de Letras.

Mário escreveu muitas cartas aos amigos nomeando Geraldo como o “poeta soldado”. Mas os dois autores se encontraram somente nas Letras. Quando Geraldo voltou da guerra em corpo, Mário partia tendo deixado conhecida a alma do precursor da Geração de 45 pela publicação de Predestinação, livro primeiro de Geraldo, prefaciado pelo modernista maior.

Cheguei a escritora pela junção de acasos que, ao final, alguns dígitos construíram, e Odette Costa teimou. E há treze anos, por ser a primeira a ocupar a cadeira nº19 da AAL, foi-me oferecido escolher o imortal que a nomearia.

Por tudo, heroicamente, ou não, são desafetados os elos que a vida amarra; magias do bater arcos metálicos e os entrelaçar como se de matéria não fossem, parecendo e imitando a arte, e sendo apenas consequência do que foi acontecido sem pensar em consequências.


Um, entre os trechos, melhor gostado, do grande livreto ganhado, afirma: “Você está desnorteado em principal porque numa terra de incultura e de confusionismo social como a que vivemos, todos os intelectuais estão desnorteados.”

O que posso afirmar?: Desde então, caro Mário; desde então, amigo Lorico; de que nos vale tanta guerra, meu eternizado pai? Matam-nos a alma ainda e por aqui mesmo lutamos contra as minas, sempre terrenas.

CURIOSIDADES:

* Em três dias Geraldo comemorará seus noventa anos ao lado de sua amada esposa Elsie Vidigal; enquanto eu, por aqui farei trinta anos de casada recordando sempre o sorriso de meu pai ao me ver entrar no salão de festas vestida de noiva carregando um bolo com sessenta velas acesas em tempo de queimar-me com o fogo da alegria pelo seu aniversário.

* O carinho pelo acadêmico Lorico e seu presente/lembrança é eterno como muitas outras alegrias.

* Há muitas mais curiosidades a serem ditas, por esses escritores maravilhosos e suas penas encantadoras. Leia-os, e releia-os sempre, como a outros.

(Publicado na coluna Tantas Palavras(do núcleo da UBE - Araçatuba),pelo jornal Folha da Região,em 15/11/2011)

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

DESCULPA DIFÍCIL EM RIMA FÁCIL (P/A)





DESCULPA DIFÍCIL EM RIMA FÁCIL - P/A

E, meditando, amiguinha:
o querer ser, me arrebata!
Mas há pouco o que fazer
frente ao sangue que em mim corre,
e foge de ser
de barata.

Tanta gente encantadora
dócil, gentil, prestativa
com pouco esforço querida,
marcante e sutil pela vida
agradando a todo mundo,
bastando,
pra isso,
viver.

Seria tão bom,
fácil, simples,
ser assim como você...

Mas, em mim,
a carga, “nascida”,
trouxe também proibidas
tais artes tão desejadas.

Ingredientes perdidos
na hora de me fazer?
Não há quem saiba dizer.

Sei que me encantam receitas
de assar assim tanta gente,
cada qual pra ser um bolo.
Tanto bolo diferente!
Em coberturas, recheios,
quanta beleza por fora,
E vivências de permeio!

Com pureza,
feito os outros,
eu confio ter pedido
para vir e ser amada.
E, acredito, desejei,
com a mais ampla certeza,
- se a liberdade foi dada -
vir também inteligente...


Mas, por mais
que eu me esforce,
na hora do vamos ver,
do sorrir em concordância,
a minha parte implicância
posta com mão tão pesada,
se exibindo vem
por inteiro.

Será que esta sabidinha,
plena de ponderação
por força do raciocínio
e muito vir a pensar,
há que impingir, dominar?
Tenho certeza que não.

E se um anjo auxiliar
sensível e sonhador,
de olhar posto no horizonte,
juntou à farinha, aos montes,
uma avessa substância
que cresceu feito fermento
pra muito discernimento
com verbo solto a pretexto
de nenhuma concisão?

Certo é que sou faladeira,
cheia de jeito e maneira
de em tudo, mais do que ver,
vir a me achar, me meter,
e por força dos fatos querer
impingir, obrigar à razão.

Assim sou porque exigi?
Há quem diga:
Tem que ser!
Mas eu juro, amada, amiga,
se assim fosse
e eu voltasse
a poder
escolher?
Apta a me arrepender
(mirando nos olhos do anjo,
também eu angelical),
só rogaria depressa,:
“O condão de graciosa,
calma, atraente, serena,
e é só isso.
Pode ser?”

Curiosidades:

* Raros são os poemas que retratam verdades minhas, a maioria é espelho impactado pelo reflexo de outrem. Neste estou eu, toda ironia, e toda em sinceridade,no tempo em que foi composto, como quando é relido. Eu e minha ambiguidade(ambigüidade).

(Cecilia Ferreira)

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

CONSCIÊNCIA X CONDESCENDÊNCIA (ou considerações sobre escorpiões, monges e galinhas ruivas)


“Estai, pois, firmes, cingindo-vos com a verdade e vestindo-vos da couraça da justiça. Calçai os pés com a preparação do Evangelho da paz; sustentando sempre o escudo da fé, com o qual podereis apagar os dardos inflamados do Maligno. Tomai também o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus”. Efésios 6:14-17


A verdade, vendo-se rejeitada por todos, sentia-se humilhada e, triste, se escondia pelos cantos. Um dia a parábola a encontrou e, cedendo-lhe suas vestes, demonstrou que o ser humano é incapaz de encarar a própria realidade, mas que, com algum disfarce, a verdade pode ser amada e andar entre os homens.

Assim também operam algumas fábulas e lendas. Esopo narrou que certo dia um escorpião pediu a um batráquio que o levasse ao outro lado do rio. A rã, com algum receio, por bondade aceitou o risco e deu carona em suas costas. O Escorpião, ao chegar do outro lado, mesmo diante do favor, picou a pobre rã, que, antes de morrer envenenada, perguntou ao peçonhento a causa de tamanha ingratidão. O escorpião, com simplicidade, respondeu: – Está na minha natureza.

Tenhamos paciência e matutemos sobre mais uma historinha. Um Monge, com as mãos, retira outro escorpião, que se afogava, de dentro das águas. Este imediatamente o pica. O Monge ao sacudir a mão de susto, sem querer, lança-o novamente ao rio revolto, mas pacientemente, por meio do uso de um galho, volta a salvar o animalzinho traidor e desconhecedor de caridade e gratidão. Os discípulos indignados querem saber por que o perigoso bicho é salvo pela segunda vez. O Monge, sorridente responde: ele faz o que está em sua natureza, e eu faço o que está na minha.

Se na Bíblia Jesus nos pede que perdoemos setenta vezes sete, devemos proceder como o Monge da lenda. Mas observemos que esse religioso, ao usar um galho, e não mais as mãos, cumpriu o mandamento sem voltar a se colocar ao alcance de seu opositor. O artifício utilizado o manteve longe da peçonha e da ira do traidor, ao mesmo tempo em que cumpria o que seu coração temente lhe ordenava. Quer dizer, agiu de acordo com sua boa consciência sem, no entanto, colocar-se novamente em posição de ser agredido.






















Ser consciente é muito diferente de ser condescendente. Não é preciso conviver com os anões espirituais, nem aceitar ou nos esconder de suas inverdades inóspitas. Deixemo-los em seus buracos escusos com sua sórdida mesquinhez. Aos jardins reservemos as flores, cuidando para que qualquer caridade não permita que o nocivo se intrometa em nossos quintais a ponto de nos afastar de nossa beleza mental, moral e espiritual.

CURIOSIDADES:

* Esta crônica foi publicada na Folha da Região de Araçatuba há alguns anos.

* Esta reprodução de crônica é dedicada a Salomé Macedo e Henry Mascarós, e outros 100% de trabalhadores voluntários que, figuraram como monges, se doando e trabalhando incansavelmente, até extenuar-se, em nome de um sonho comunitário.

* Em determinado momento Os 100% de trabalhadores,também 100% representantes de algum segmento cidadão, representaram, infelizmente 49%, dos votantes.

* Mas..., feito o conto popular A Galinha Ruiva, quem jamais deu as caras na hora de trabalhar, ou se doar, que não plantou o milho, não colheu, não moeu, não fez farinha, não preparou a massa, não esquentou o forno, nem o pôs para assar, ou sequer deu o suporte de alguma presença solidária quis comer o bolo.

* Quem conhece a história sabe: os preguiçosos aparecem quando o bolo está pronto na janela.

* Moral? Aprender que nas parábolas de nossas vidas cidadãs os peçonhentos existem. Devemos então aprender a usar galhos. Porque a vida é feito um câncer de mama, a prevenção e a defesa não é somente um direito, é também uma obrigação para com aqueles que você ama.

* Salomé, Henry, e demais Conselheiros de consciência limpa, vocês são dignos de eterna admiração.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Tico-tico topetudo topatudo


Você vai dizer, junho ficou lá atrás! Mas há associações inevitáveis: cheiros e épocas, comportamentos e lembranças...

Ah, que saudades da Festa da Pipoca. Em São Paulo num tradicional colégio, era a festa mais esperada do inverno. Meninas de uniforme de gala, ou em roupas de caipirinha; meninos, que só naquele dia podiam estar na escola, sobrecarregando a Cadeia e o Correio Elegante.

Ali aprendemos tudo sobre voluntariado: aceitação, reconhecimento pelo que temos – pois em relação aos necessitados qualquer posse é muita – e doação. Ali ficamos marcadas, condenadas a crer nas boas intenções alheias. Só víamos o bem e desejávamos crescer logo para imitar mães e irmãs no trabalho voluntário da quermesse pelo bem comum. Nem percebíamos o treinamento para servir. Topávamos tudo pela alegria da comemoração.

A relação entre os que têm e os que não têm nunca pareceu justa, mas é simbiônica, benefícios de mão dupla; eventualmente em proporções diversas, mas já é algum bem, em que sempre se pode melhorar.

Se simbiose entre pessoas figurativamente é associação em que todos os envolvidos saem ganhando, no relacionamento parasitário, o parasito humano querendo ganhar sozinho, recebe apelido figurativo: chupim.



Da natureza, infelizmente, os homens não herdaram apenas os bons exemplos.



Se já ouviu falar do chupim sabe que o pássaro interessadamente põe seus ovos no ninho do tico-tico. O chupinzinho, tão bonitinho, chocado e alimentado pela família tico-tico, além de não fornecer nada em troca, tem por hábito matar os irmãos que adotou para ficar com a parte deles.




Outras vezes, faz talvez pior, fura os olhinhos dos tico-ticos; ato pensando que de forma mais longa e dolorosa tira a oportunidade de sobrevivência dos pequeninos. E os pais pássaros, iludidos, seguem cuidando do nascido velhaco.


Por que o chupim elege o ninho dos tico-ticos? Talvez porque os últimos tenham frequentado colégios como o da Festa da Pipoca. Claro que a última frase é pura figura de linguagem, coisas da língua e de seus por trás das letras, o verdadeiro sentido está nas entrelinhas.

Pejorativamente chama-se coisa ou pessoa pequenina de tico-tico.




Mas deixemos metáforas, alegorias, comparações por símile e possíveis conotações para os mestres, que nossa arte é outra. E,pela Lei das compensações, o chupim, fora do ninho, se alimentará somente dos restos nas fezes dos bois. A natureza é sábia.


Voltando ao tico-tico, ele é comparável a certos humanos que nascem para sempre incapazes de enxergar os chupins em sua vida, embora muitas vezes tardiamente percebam o abuso. Por isto estas saudades da festa de inverno da infância (invadindo o verão). Tempo em que a certeza de que o mundo era bom e fé na evolução espiritual, moral e ética de todos os homens parecia cabível.


Ainda assim, nós, filhos de Deus, cidadãos comuns, seguiremos esta eterna vocação de crentes (chupins diriam rindo (estão dizendo): “Vocação pra créus, seus idiotas, será créu por todo lado!”). Porque não há nada que gente de fé não faça de boa vontade, sem lucro ou garantia de aplauso, apenas porque está em sua natureza. Natureza de Tico-tico, com orgulho e maiúscula, claro, porque Gente-tico-tico, como o bicho, pode ter fé, mas tem topete.

CURIOSIDADES:

Essa crônica foi escrita em 2009 e publicada na Folha da Região em setembro daquele ano.
A atualidade de certos assuntos me incomoda.

domingo, 6 de novembro de 2011

Desejo ao escritor

Saúde, para pensar no que é preciso; vontade, para pôr no papel; e coragem, para expor ao mundo.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Carta a Cidinha Baracat


Querida Cidinha,

Especiarias raras temperando gente encantadoramente humana tornou difícil colocar a experiência em palavras. Mas, se posta, digo que foi de alimentar o espírito e acalentar o coração. "Escrevivências", ontem, foi assim especial.

Obrigada por criar um grupo pleno. Pleno de gente interessada, mais do que isso, interessante.

Grata também pela ideia e pelo empenho em por a funcionar o projeto.

Ganhou a Academia Araçatubense de Letras, mais ganhei eu.

Termino por onde comecei:

Difícil definir a sofisticação da simplicidade. "Escrevivências", ontem, foi assim especial.


PS: São, os incríveis integrantes a quem agradeço a presença e doçura do compartilhar: Tina (Albertina) Saraiva, Antenor Rosalino, Arjuna Fontes Teixeira, Aurélio Rosalino, Emília Goulart dos Santos, Hilda Dias de Oliveira, José Hamilton C. Brito, Manuela Sant'Ana Trujilo, Maria Carolina Solci Madeira, Maria José da Silva, Maria Rosa Bicalho Rosalino, Nilza Bardi Romano, Wanda Edith Meira Costa, Wanilda Meira Costa Borghi.