segunda-feira, 22 de agosto de 2011

O BOI, A EXPÔ, O SEIS & OCÊIS

“O boi conhece seu possuidor, e o jumento, a manjedoura do seu dono (...)” Isaías 1.3

Seis. A justa medida do progresso no ano de 1.919. Seis metros, “de largo”, abertos na então densa mata paulistana, ligando esta cidade¹ ao rio Paraná, rumo a Três Lagoas. Estrada boiadeira, da boa poeira vermelha.


Vermelha como a carne por onde corre o nosso sangue. Vermelha como a cor do alimento fundamental propulsor do cérebro humano, fonte de ferro e de proteínas de alto valor que nos livra da anemia, origem da vitamina B12 que garante a manutenção do sistema nervoso central.




Vamos combinar? Sem preconceitos! O pecado está na gordura de qualquer carne: branca, vermelha, cor-de-rosa... Sei... Cê tá pensando naquela gordurinha tostada e crocante que salta do churrasco de picanha? Pode parar! Ah, tá bom... Vez em quando “pooode”!



Tal gordura, bruta de boa, anda mais condenada do que Chico Buarque e Milton Hatoum, na coluna do Mainardi. Pode? Dois de nossos ícones literários destronados sem a menor cerimônia, por sentença da escritora irlandesa Edna O’Brien, durante a Festa Literária Internacional de Paraty. Rugas “mís” de preocupação.

Maior inquietação é a de quem tem colesterol alto.



Aí podemos sempre optar por cortes menos gordurosos como o coxão mole, o lagarto, o patinho. Já o filé mignon, paixão dos Chefs, porque insosso, presta-se ao sabor de sortidos temperos. De todo modo, qualquer porção crua, cozida, frita, assada, em bifes, tortas, bolos ou bolinhos, fica deliciosa.





Voltando à vaca fria, a tal estrada boiadeira (somada a certa balsa capaz de trazer à outra margem do caudaloso rio, de um fôlego, cem bois) teve muita importância.



Valorize-se a visão e o empenho de Bento da Cruz. Por causa dele, das famílias fazendeiras e dos muitos mascates e comitivas de burros, Araçatuba, virada pólo pecuário, tem hoje a maior exposição de gado Zebu do estado de São Paulo; porque há cinqüenta anos oficializou-se o primeiro grande evento agropecuário desta cidade, que desde então só fez crescer e modernizar-se, acabando em festa – que é como vivemos a vida.

Que nos importa a adstringência de outros continentes? Somos jovens de cento e dois.

E tome festejos cinqüentenários³.


Ainda bem que O’Brien² não foi ao jubileu musical de Roberto Carlos. Creiam, já houve quem quisesse aviltar o Rei, assim como agora a Chico e a Hatoum. Que dizer do pobre boi, e sua doce carne, sem pena para escrever ou voz para cantar? Coisas de estrangeiros.


A carne bovina tem para americanos e europeus um alto custo. Eles não possuem nossa vastidão agricultável e outra imensidão, menos fértil mas ainda fértil, própria para pastagens; muito menos o nosso clima “em-se-plantando-tudo-dá”. Nem pasto que sobeje pra churrasqueares e festejares da lida a qualquer “dá-cá-aquela-palha”. Sem poderem concorrer o que bem sabem fazer é desmerecer nosso melhor.





Se a crise mundial os fizer voltar a tentar bater com força na produção e no consumo da carne bovina, usando os mais variados e sutis subterfúgios, saberão que aqui a vaca jamais irá pro brejo: nossos burros, tocando o gado, atravessaram rios, ganharam estradas, venceram negócios; já os burros deles deram n’água.


Como diria o mineirinho em certa piada: “ocêis pode inté achá qui nóis é burro, mas quem anda perdido são ocêis”.


CURIOSIDADES:
• Este artigo foi publicado na Folha da região em julho de 2009 na coluna Tête-à-tête.
• Portanto, desde pelo menos 2009 a campanha dos nada literatos para minimizar a qualidade literária de Chico Buarque já havia sido iniciada.

1: Araçatuba
2: Diogo Mainardi afirmou em crônica de julho de 2009 que:"Edna O’Brien foi arrastada a um encontro entre Chico Buarque e Milton Hatoum. O que ela afirmou, assim que conseguiu escapar do encontro? Que Chico Buarque era uma fraude. O que ela afirmou em seguida, durante o jantar? Que se espantou com a empáfia e com o desconhecimento literário dos dois autores"
3: Notem que era tempo de tremas. Quando ainda não tremias de medo a seres obrigado a gostares das mudanças ortográficas "como nunca antes neste país". "Veja...", era tempo "de que" não havia "discriminação lingüísticas"

4 comentários:

  1. Sabe que o Heitor Gomes falou a mesma coisa dos dois? Que coincidência....
    Mas o tal de Mainardi e Zé Simão, da Folha...ah! gostaria de apertar suas gargantinhas até os olhos pularem até à lua.

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  2. Veja como o Heitor está sintonizado com os dois humoristas! r****

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  3. Bom dia, Cecília. A aragem e a leitura de sua belissima crônica que tráz verdades e hilariante nostalgia toca o coração do leitor. Parabéns!

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  4. Amigo Antenor, recebo com carinho a sua avaliacao.

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Que bom que quis comentar. Pode esperar que logo respondo. Obrigadinha.