sábado, 27 de agosto de 2011

LETRAS E SUPORTES


Ninguém é dono das palavras ditas. Apenas das escritas. De toda forma é, no mínimo estranho, ver alguém repetir (na sua frente) um discurso (que ouviu de você) com a pompa e a circunstância da autoria que a vaidade confere ao falso autor.


Surgido o primeiro suporte para a escrita, surgiu a assinatura. Nas paredes das cavernas primitivas é possível separar o traço de um escultor rupestre do de outro. De lá para cá a escrita andou por placas de barro, paredes piramidais, papiro, papel.

Na era do papel as primeiras Academias surgiram. Se estas tivessem aparecido em 4.000 a.C. ainda teríamos que usar paredes de cavernas para ingressar em seus quadros?

O que interessa é o suporte, ou a qualidade do que se põe no suporte?

Na Academia Araçatubense de Letras, que me ocorra, temos três autores que imprimiram a história de Araçatuba: Odette Costa e Célio Pinheiro, em livro, e Angela Inês Liberatti, em quadrinhos. E isso nos dá vantagem sobre a Academia Paulista de Letras? Termos aceitado um cartunista antes dela? É evidente que isto é uma provocação, pois Angela é bem mais do que apenas cartunista, e neste sentido, sim, levamos vantagem.

Falando em cartunistas e historiadores, falemos de Pedro. Não do apóstolo que inspirou os pastores da Ágape a nomearem seu filho, mas do filho destes: Pedro Viana Mouro. Que tem dons.


Dom é coisa de Deus, mas fazer vingar a dádiva nem sempre é fácil. Depende de esforço e humildade, que Pedro usa com sobra, tendo para isso a sorte de ter bons pais, boa igreja, boa educação. Depende também de desejar esparramar aquilo que se tem em seu próprio interior. No caso de Pedro: os bons sentimentos. Mas isso independe do meio que se usa. Perspicaz, ele tem um ótimo blog. Vale a pena correr atrás de ver. Pedro é só um garoto. Teve, como poucos, a oportunidade de produzir um caprichado livro, em quadrinhos (bom como os do acadêmico da Paulista, como o da acadêmica da Araçatubense).

O que seria do dom de Pedro sem suporte? No livro/quadrinhos, em que publicou poemas, acróstico e passatempos também de sua autoria, desfilam capítulos completos, divertidos e curtos. Ali apresenta desenhos lúdicos, falas inteligentes, e segue desvendando a história mil vezes desvendada com a independência do bom autor. Nas particularidades do passado da cidade e graças do presente faz desfilar personagens interessantes, aos quais soube conceder idiossincrasias palpáveis e características definidas e plausíveis dando vida às próprias letras. Nem todos conseguem ser interessantes e inventivos na virtude.



O que seria do suporte sem o dom de Pedro?

E o que seria do Pedro se não tivesse onde e como pesquisar?

No verso da bem cuidada edição lê-se: Pedro Viana Mouro (autor e ilustrador), Henry Claudio Queiroz (diagramador), Clayton Kahn (fotografia), SOMOS (impressão). E as fontes: Academia Araçatubense de Letras, Célio Pinheiro e Odette Costa Bodstein (entre outras publicações deste jornal).

Então que bom que os membros fundadores teimaram em acreditar na criação da academia, que bom que acadêmicos são fonte e inspiração, que bom que o mundo evolui e jovens inteligentes podem fazer uso de variadas mídias, e variados suportes que têm ao alcance das mãos.

Que bom será quando pudermos dar oportunidade aos que não possuem quem lhes financie ingresso no mundo das letras. O talento não deve ser desprezado por falta de haveres. Somos a soma do permitido por aqueles que nos cercam. E as capacidades individuais devem ser reconhecidas sempre que assim fizerem por merecer.

Curiosidades:

* Este artigo foi publicado na coluna Tête-à-tête em agosto de 2011 com a Palavra: “E Simão, vendo que pela imposição das mãos dos apóstolos era dado o Espírito Santo, lhes ofereceu dinheiro, dizendo: Dai-me também a mim esse poder, para que aquele sobre quem eu puser as mãos receba o Espírito Santo. Mas disse-lhe Pedro: (...) cuidaste que o dom de Deus se alcança por dinheiro.” Atos 8. 18, 19, 20.



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