terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Abdicante amor

E caiu nas mãos dos salteadores, os quais o despojaram (...) deixando-o meio morto (...) um samaritano que ia de viagem chegou ao pé dele, e vendo-o, moveu-se de íntima compaixão (...) atou-lhe as feridas, aplicando-lhe azeite e vinho (...) levou-o para uma estalagem e cuidou dele (Lc 10. 30-34)

A vontade de abrir mão de pessoais desejos é suplantada se nos vemos centro de nós mesmos. E Deus ama e perdoa. Sempre. Ansiamos por esse amor universal, o amor pregado por Cristo, e, no entanto, nossa própria humanidade impede. Mas a falha forma de ser não abranda o admirar quem manifeste esse abdicante amor.

Interessante como declarar amor pode ser variadíssimo, matizado mesmo. Algumas formas, simples, surpreendem e encantam. O advogado, professor e articulista deste jornal Jorge Napoleão Xavier extravasa seu amor via arquivo memorial. Não lhe basta lembrar todos os que lhe cruzaram caminhos, nem descrever vidas, negócios, parentelas, amizades, enleios sociais. Napo, como é conhecido pelos que o querem bem, o faz com amor saudoso e gentil, registrando sutilezas generosas a cada retrato.

Clarice Lispector (escritora já falecida) cantava-se canhestra no amor, pois ao amar feria e arranhava. O Dr. Pagura, em São Paulo, em ousada cirurgia, salvou a vida do grande comentarista Osmar Prado. O método usado foi a raspagem do tecido cerebral que estava morto, necrosado.

Do imprestável tecido brotou vida novamente. Há então uma certeza de que raspagens, arranhões e certas feridas são como varreduras de assoalhos e escovação de dentes: executa-se para um rebrilho, um renascimento.

Há bons samaritanos internacionalmente reconhecidos, como Gandhi e Martin Luter King. A abnegação pode ser pela palavra, corpo, ação. Muitos escolhem minorias esquecidas, e, alguns, nem sempre reconhecidos, são capazes de criar a própria família, e acolher pessoas desassistidas como se fossem família. Em Araçatuba, existe a Casa Bom Samaritano. Assunta, uma boa samaritana idealizadora e mantenedora do lar, conta com muitos outros altruístas ao longo de seu atender aos alcoólatras, andarilhos e demais ignorados sociais desprotegidos pelo poder público.

A casa, em que cuidando oferece o serviço de suas mãos, corpo e coração, é ação amorosa incondicional, inalcançável e admirável aos nossos olhos e apegos. Nem só abriga, nem só alimenta, veste e acode medicinalmente. O que a faz incomum é o raro dom de devolver-lhes a auto-estima, o apego à vida, e a esperança (sempre divina) no ser humano.

Folha da Região-20/06/2007

2 comentários:

  1. O bom é que os Araçatubenses não preciosam buscar em Calcutá ou na Bahia, exemplos assim. Hoje, Assunta. Ontem: João Gomes Guimarães, Martina Rico, Antônio Fileto, Olegário Ferraz, Elza Brito Zoneti, Maria dos Anjos Fileto, Monsenhor Mazzei.
    E se for falar no pão cultural aos pobres como eu tenho uma boa relação de nomes a dar e dentre eles...bom dia.

    ResponderExcluir
  2. E temos vc, para nos lembrar de que se muita gente vale a pena lutar pelo bem também vale! Obrigada, Hamilton Brito!

    ResponderExcluir

Que bom que quis comentar. Pode esperar que logo respondo. Obrigadinha.