quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Par_ido














Silencia e escuta tuas veias e batimentos.
Escuta ainda,
escuta sempre...

O que saiu de ti, em ti sempre estará.
Escuta...
Não veles abatimentos.

Se caminhava e sorria para as galáxias
foi porque arteiros,
das vísceras tuas,
os passos não se detiveram
ante portas de ânsias terrenas.

E assim, mesmo
no contra a favor da tua desvontade,
viste a própria alma
caminhar, desembainhada,
a esmo.

Espada oferecida
em pernas e braços
pele em pelo,
espáduas e energia
a decidir-se em, teimosamente,
barganhar os tais destinos.

Não chora que agora
nenhum apelo de desatinos
vai trazê-lo
para aqueles aos quais exibiu,
desinibido,
as tuas semoventes entranhas.
Porque eles têm olhos,
mas não sentidos
vídeoultrassonográficos.

O com-par,
parceiro ímpar
de ti,
seria,
será
estranho ao universo
em pouco tempo.

Mas saiba,
todo o zelo reverso,
todo o teu verso,
ou gana do destino,
nada engana
e chega a negar
a origem no teu útero menino.

Escuta agora,
escuta sempre.
Ouve, ou vê:
dentro de ti ele não sei foi,
pulsa ainda...

Louva essa dor,
que nenhum rodo
em lavação esgota.
Se rasga
e, rota, fere,
ainda aponta
(alento)
o teu nunca esquecimento.


Cecilia Ferreira

4 comentários:

  1. Parabéns Cecília, por esta belissima inspiração sobre a dádiva da vida. É um radiograma visceral profundamente reflexivo e belo. Meu carinho e meus aplausos!

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  2. Nossa, o Rosalino tirou as palavras da minha boca...mesmo, um radiograma visceral. Exatamente.

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  3. Hamilton adorei a dedicatória no Experimentânea 9, você foi mais generoso do que mereço.
    Obrigada.

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  4. Postei três vezes uma resposta para o comentário do Antenor... Muito estranho, mas sumiu três vezes. Já não me recordo das primeiras palavras, mas certamente foram de gratidão pelo carinho com que enxerga as minhas escrituras. Grata, amigo.

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Que bom que quis comentar. Pode esperar que logo respondo. Obrigadinha.