domingo, 15 de maio de 2011

Do CHAT

Será que sala de chat já é chato? Pura antiguidade? Ainda estão lá. Existem. Deve haver quem use. Mas a famosa dependência dessas páginas deixou de trazer tanta preocupação.
O perigo agora, é como o temor do “homem do saco”. Existe, mas pouca gente vê. Porque hoje desde cedo os pais ensinam os filhos a desconfiar e temer a figura invisível do outro lado da tela.
Porque perigoso mesmo foi o dia em que você foi gerado, depois disso tudo é questão de escolha.
Vamos ao poeminha:


Cantam!
Unem-se!
São vozes
em torno de um alvo só,
desenrolar de novelos
e o desatar desses nós.
Corredores, portas, brechas,
profundas perspectivas,
labirintos vasculares,
plenos de interrogações.
Pulsares,
Falanges aflitas,
teclados (em java?)
e hesitas
entre o real impalpável
e o virtual categórico.
Absurdos,
mistérios,
saíres fora do sério,
para depois aceitar
infames incongruências
dos fatos, fitos, boatos.
Calares perguntas da alma,
guardares no olhar a calma
que teima em não se mostrar.
Nas palmas das mãos
– segredo –
Reveste o sonho de medo
na tão imensa aflição.
“Retorna!”
o cérebro grita,
“não vês que é uma contramão,
Insano ser estressado?
Larga já desse teclado,
Senta agora do meu lado,
Que eu sim te dou refúgio!”

E sacodes a cabeça
– inconformada
rebelde –
pra afastar os impropérios
que a lucidez quer contar.
E voltas os olhos
– aflitos –
aos dizeres em negrito:
exclamações, reticências,
parênteses, aspas, ênclises,
chaves, hífens e o tal ponto
– Ah! Interrogação.

Ficas sempre sem resposta,
entre quedas e travadas,
provedores inconstantes,
browsers que na madrugada
resolvem te abandonar.
E ainda assim não desistes!
Vício como outro qualquer,
injetas nos olhos
a tela
e pensas no teu absurdo
“se tudo
corresse a content
e soubesses as respostas
de quem fala do outro lado,
ainda seria sedante,
deste teu sonho velado
– o veículo citado
mesmo que por um instante –
de seres de novo menina?"
Ah, essa tal de Adrenalina!


CURIOSDADES:

A internet chegou em Araçatuba pouco antes do final do século passado.

Uma determinada sala de chat foi o melhor meio de comunicação com os irmãos, que moravam em outras cidades. Acabamos fazendo (um irmao casou-se com uma "nicka", hoje cunhada querida) e/ou acompanhando romances e dramas por meio de "nick names" (apelidos/pseudônimos) dos que frequentavam aquela sala.

Mesmo sendo tão visitada, rapida e menos misteriosa do que ja foi, a internet ainda me encanta e impressiona, como a quem nasceu do lado de cá do espelho de alguma Nárnia e penetrou por erro na crônica alheia.

O poema "Do CHAT" foi escrito em fins de 2002. Não poderia imaginar que menos de dez anos depois, ao repensá-lo, o acharia tão ultrapassado.

Atropelado diante de twitters, facebooks e etc.

PS: Permitida a reprodução deste ou de parte deste, desde que citada esta autora, Cecilia Ferreira.
(o poema acima pertence ao livro de poemas Vinhos, subtítulo: Cítricos, editora Nankin)

2 comentários:

  1. Que espetacular exposição de ideias sobre a sala de chat,Cecilia. E você se refere a esta raridade poética como um poeminha? Vou reler sempre que puder. Parabéns e um abraço cordial.

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  2. Caro Antenor, vou criar uma comenda VFV, very friendly visitor. Obrigada pela companhia on line!

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Que bom que quis comentar. Pode esperar que logo respondo. Obrigadinha.