segunda-feira, 23 de abril de 2012

Cirandar



Destilando sua dor-veneno
humano monstro me aniquila.
Eu que sou forte na quizila
quase me vejo desgraçar.

Joga então o jogo da inveja,
ser-serpente que me sufoca,
que silencia a minha boca,
convertendo em palavras loucas
o meu, qualquer, manifestar?
E só eu, sua mira, direi
dos caminhos da fina flecha,
das manhas, astúcias, ardís,
desses seus anseios febris,
das suas calúnias, das pechas?
Só eu fato fito do ato
de tão trêfega fatuidade,
só eu saberei, na verdade,
da falsária fisionomia?
Só eu poderei perceber
de onde é que navega tão falsa
pantomima de picardia?

E sem outro afã que me guie
que furtar-me a esses seus desvios
sorrio meu riso maroto...
É desafio!
Estalo a língua
e sinto o gosto...
Vamos jogar!

Pois cerremos as venezianas
e que sob nossas pestanas
impossível seja encontrar
as sutilezas das razões,
dessas práticas vis e escusas
dessas armas que você usa,
nas dores que quer me causar.

As luvas serão de pelica,
arsênico branco em arnica.
Também eu posso simular
um anjo a fazer zombaria.
E no alvorecer desse dia,
verá seu alvo-bumerangue
qual uma heroína no pódio
- surpresa de seu próprio sangue
rolando tranquilo nas veias,
liberta, agora, do seu ódio -
a deslizar por entre essas teias.


Curiosidades:

*Poema do livro Vinhos, em Amaros, ed. Nankin.

6 comentários:

  1. Bravooooo! Ahhhhh...... bravíssimo, denso como uma ponta de faca.

    Beijos, bela.

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  2. Maria Tereza, que bom que esta aí pra levantar meu astral! ;)

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  3. eu posso simular um anjo fazendo zombaria.... gracioso texto. muito bom gosto. obrigado. abraços lamarque

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  4. Quem agradece o gostar e o querer comantar, sou eu. Que bom, Lamarque.

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  5. Apesar da ciranda do ódio, o perfeccionismo das teias faz com que eu veja a tua poesia como um tear de cristal. Lindíssima, Cecília.

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    1. Porque a vida é feita de muitas pessoas e muitos sentimentos... Feliz com o seu apreciat, caro amigo!

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Que bom que quis comentar. Pode esperar que logo respondo. Obrigadinha.