domingo, 7 de agosto de 2011

Copiar - Colar


Na sala flutuante, a caminho da escola, dois aluninhos conversam sobre seus trabalhinhos...

(garotinha explicando) ... mas, antes não tinha Ctrl+c e Ctrl+v...

(garotinho) E como é que se vivia antes?

(garotinha) Escrevendo com a mão, uai!

(garotinho) Ah... Não sei, não... Tinha isso?

(garotinha) Minha mãe disse que tinha!

(garotinho duvidando) Ah, tá! E pesquisavam onde?

(garotinha com coisas mais interessantes para fazer do que discutir como caminha a humanidade) Ah, xá pra lá. Isso é coisa do começo do terceiro milênio. Detesto falar de antiguidades.


Ah... a juventude. Insistem em ser vanguardistas!


Nós aqui, neste lugar do passado, querendo atravancar o andar da carruagem...



Carruagem, o quê?

E atravancar o andar dos trens aéreos, dos aviões hiper-sônicos, dos quase teletransportes que as videoconferências permitem?

A fila cerebral anda!

Nada como um copiar e colar para postar no seu blog. Escreve-se no Word, clica-se na lateral da página três vezes para selecionar todo o texto, aperta-se o Ctrl+c, copiou; vai no editar nova postagem do blog e dá um Ctrl+v e, como diriam os franceses: “Voi là”.

Colado está sem precisar digitar tudo outra vez.

E pra pesquisar então, quando se quer falar de temas variados, mas não se quer reabrir todas aquelas páginas já pesquisadas? Várias vezes copiamos/colamos, copiamos/colamos, pra depois decidir o que de fato será mais importante ali.

O que é a internet senão a maior biblioteca já reunida? Quiçá a melhor do universo? Páginas luminosas que tratam tanto dos mais altos assuntos econômicos, políticos, como podem trazer em si o melhor da literatura mundial.

Mas... o pior também!

E o Word o que é, senão um caderno de estudos, ou diário, em que se escreve o que se quer e apaga-se sem rasurar a página? Local em que lágrimas choradas sobre cartas de amor finado, ou de frustração acadêmica, não borram jamais, servindo tanto para as suas confidências, como para seus estudos mais avançados?

Mas... sper’aí!!!

E o preguiçoso?

O danadinho que vai na internet e copia, pra colar e depois imprimir (seja pra entregar pra tia do primário, pro prof do colegial, ou pro mestre da facul), tá aprendendo?

Lá vem então a histórica: Era uma vez uma mocinha (mocinha dos tempos elétricos, jamais dos eletrônicos já que ainda não havia computador caseiro), que fez um trabalhinho de escola e tirou dez.

A coleguinha, que tinha ido à biblioteca e pesquisado nas enciclopédias sobre o nordeste ficou indignada e disse para a abnegada mestra do admissão: “P’ssora ! Se eu que pesquisei nos livros tirei sete, como pode tirar dez essa aí, que pegou um monte de folheto que a mãe dela trouxe do nordeste, leu, mudou o texto que tava escrito e colou as fotografias?

Ainda por cima metade do que está escrito aí, nem tava escrito em lugar nenhum, foi a mãe dela que contou da viagem!”

A professora ficou em silêncio um tempo, tendo diante de si os dois trabalhos que a menina que se sentiu injustiçada colocou diante da mestra.

Folheando os dois trabalhos, releu rapidamente, olhou as imagens de um e de outro, e disse:

“Querida, assim como você, a coleguinha pesquisou e interpretou o texto que leu e o que ouviu. Assim como você ela reescreveu com as próprias palavras tudo o que conseguiu entender. E, assim como você escolheu e caprichou na forma de apresentar as figuras que encontrou. A nota sete não foi para a enciclopédia, e o dez não foi para a mãe dela, ou folhetos. O sete como o dez foram méritos conquistados pelo que cada uma produziu, independente do material em que cada qual pesquisou.”

Depois a professora ainda concluiu: “Com certeza a coleguinha correu um risco maior pela fonte pesquisada, mas o trabalho prova que o pesquisado estava correto e que ela aprendeu. Portanto, não há mal nenhum nisso.”

Para o caro frequentador do meu blog (que não tenho como nomear já que se assina anonimamente) que pediu que eu falasse sobre esse assunto eu posso contar bem baixinho, em segredo: a menininha que pesquisou na própria mãe era eu.


E desde aquele dia, em que até hoje tenho calafrios, quando lembro da angústia sentida porque a amiguinha (sempre muito querida) avisou que ia delatar o meu suposto crime, aprendi a lição inesquecível:

Não importa como, nem onde.

Importa que a gente seja capaz de aprender a lição.

Absolvo portanto o Ctrl+c e o Ctrl+v do aluno que:

• For capaz de digitar no google uma palavra-chave e encontrar o que
procura em meio a tantas péssimas referências;

• O aluno que ao ler os variados links for capaz de selecionar o texto correto, e no contexto exigido pelo professor;

• Ao selecionar o texto correto e dar um ctrl+c, e um ctrl+v, reescreva a pesquisa de forma diferente (é bom que ele continue pensando que está fazendo isso para não ser pego pelo professor).

E não absolvo porque sou boazinha, não!

Absolvo porque esse aluno, ao ser ‘espertinho’, estudou o suficiente para entender e memorizar aquilo que se deu ao trabalho de:

• Procurar;

• Encontrar;

• Copiar;

• Colar;

• Modificar;

e...

• Apresentar!

Ô! Esse cara aprendeu!

CURIOSIDADES:

* saudades imensas das P'ssoras Cynira (geografia), Martha (que gostava de história e de nossas estórias), Celeste (português) e de tantas outras incríveis educadoras que, passeando por nossas mentes, como pelas salas de aula do Colégio Me. Alix, nos fizeram mais sábias e mais humildes.

2 comentários:

  1. hahhahahahhaha , muito obrigada Cecilia , adorei !

    ResponderExcluir
  2. Anonimo, Posso ate errar, mas sem resposta eu nao deixo! r****

    ResponderExcluir

Que bom que quis comentar. Pode esperar que logo respondo. Obrigadinha.