sexta-feira, 3 de junho de 2011

CROMOSSOMOS COMO SOMOS


Maio. Femininamente comemorativo. Mês da representação de mulheres, noivas, mães. A mulher e sua função, ao longo dos anos, tem sido pintada e esculpida. Uma das mais antigas estatuetas já encontrada é a “Mulher com o Chifre”.

..................(Vênus encontrada na estação arqueológica de Laussel)



O que surpreende na antiga escultura (paleolítico, período iniciado a cerca de 2 milhões de anos atrás) é a semelhança que aquela mulher de ontem escancara com a de hoje. A ancestral deusa, ilustrativa da feritilidade, tem quadril avantajado e seios que pendem (impiedosamente!).

Que não se assustem as portadoras de XX. A letra xis, assim, em dobro e maiúscula, representa os chamados cromossomos que diz como nós, fêmeas, somos.

Já o homem tem um cromossoma X e outro Y. É isso. O duplo X nos faz noivas, ovarianas, uterinas, amamentadoras, mães, atentas, cuidadosas, falantes... multifuncionais. Tá. Se isso a gente já sabe, qual o problema?



O que tem a escultura conosco?

Ela é a mulher de hoje, esculpida (e escarrada) em pedra calcária (não em Carrara). É prova de que a gente não tem como lutar contra a genética. Porque na Idade da Pedra Lascada todo alimento era natural, cru, sem adição de gorduras trans, açucares industrializados, e sais químicos ou marítimos. Se eram nômades imagine as calorias gastas diariamente, e as caminhadas! Provando que nunca foi sedentária a Vênus pré-histórica exibe as canelas e os braços finos. Mas as ancas...




Resultado disso é que hoje poucos se interessam em entalhar o mármore, o negócio é esculpir a carne. Ninguém quer ser a Vênus que o artista das cavernas gerou e andar por aí exibindo quadris e seios matriarcais. E como deusa, no dicionário, é a mulher que personifica os valores e a suprema aspiração de um grupo social, ou mulher muito atraente e de extraordinária beleza física, consola-nos saber que houve quem pensasse as fêmeas como deusas.



Neste terceiro milênio só a juventude importa; só o meu agora faz feliz; a maternidae estraga o corpo; o filho consome tempo e direito à liberdade feminina! Eis que a sociedade aceita como ideal o mundo dos XY que, a qualquer momento, podem, hormonalmente, desistir da família que construiram. À mulher não basta mais a liberdade conquistada no século passado. Muitas afogam sua vocação e aplaudem a autora Elisabeth Badinter, autora de “Le conflit, la femme et la mère” (“Os conflitos, a mulher e a mãe”).

No livro a filósofa nega que exista o instinto maternal. Chega a “denunciar” que somos obrigadas à “ideologia da mãe perfeita”, crê que nos forçam coisas para as quais nossa índole não foi moldada e acha que amamentar é imposição da sociedade. Sinceramente!, pra que então servem as mamas? Útero e ovários seriam enfeites? Gente, até os animais, cujo raciocínio é menos desenvolvido, amamentam e cuidam da cria com a graça da naturalidade divina.

É feio dizer: não lemos e não gostamos. Mas, como todo mundo tem direito à defesa, por enquanto fica o pensamento de que talvez nem tudo o que Elisabeth Badinter diz seja tão contranatural.

Comentam as críticas por aí que a terceira parte do livro fala sobre o “barco estar demasiado cheio”. E aí, sim,podemos concordar: o mundo carece de alívio populacional. Mas não será desvalorizando corpos, feminilidades e vocacionalidades inerentes às mulheres, que avanços (cromossomicamente falando), terceiro milênio a dentro, se farão.

* Esta crônica de Cecilia Ferreira foi publicada em 23/05/2010

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