sábado, 18 de junho de 2011

Saudade (viver a vida, passado, presente e futuro)


“Que saudade do não vivido!”

A exclamação veio brotando fundo na alma.

Você já sentiu essa sensação? Não é de solidão.

Já falamos em solidão na internet.





A internet parece mais caminho, companhia.


Solidões sentiram nossos antepassados, os desbravadores. Aqueles que vinham de além-mar.



Chegavam nos continentes novos, criavam família longe daquela que os criou.

Seria isso que os levava a fazer a família grande? Com mais de dezenas de filhos? Imagino que a vontade de preenchimento da solidão estivesse entre as muitas razões.



Ver nascer neste ou naquele a face do pai, ou o jeito da mãe que ficou acenando à beira do cais do outro lado do oceano, sabendo que talvez jamais voltasse a rever o filho, a filha, os netos...

Um dos meus tetravôs, nascido em 1760, veio do Porto, Portugal. Construtor de navios, foi Patrão Mor da Barra da Bahía. Sei que apesar do cargo de nome bonito a vida foi de muito trabalho e construção.





Ele sim. Sentia saudades num tempo em que as mensagens ainda não sabiam jogar-se no ar feito nuvem de fumaça indígena e viajar milhares de quilômetros na rapidez do toque.










Esperar por cartas que escritas hoje seriam lidas semanas, meses depois...

A alegria de reconhecer o punho que escreveu aquela letra...

Certo, é muito mais tátil sentir o papel e a tinta do que os dígitos na tela fria. Mas a novidade por correio chegava antiga, com gosto de passado.

Mas na caligrafia e nos dígitos há a inegável presença do estilo. Inconfundível e aconchegante como saber-se pertinho.



Uma pessoa querida ouvindo exclamar minhas saudades do não vivido on line, relatou ouvir naquele instante, numa rádio, a música do Lenine que canta: “eu morro de saudades do que era pra viver.”

No mesmo instante, sumiram-se os mais de quinhentos quilômetros que nos separam. E ouvimos juntas, como por encanto a mesma melodia, sem que eu estivesse com o rádio ligado


Na vida duas coisas são importantes se bem balanceadas: o toque de nossos amados mais próximos, e ouvir, ou poder ler os nossos amados distantes.

Se quando crianças curtimos esperançosos o futuro, adolescentes e recém-adultos só enxergamos o presente (até porque não nos sobra tempo pra curtir outra coisa).

Ao avizinhar a parcial tranquilidade dos filhos adultos, o ato de recordar o passado exibe em plenitude de pavão, a vida rica que tivemos.
Penas coloridas desfilando acontecimentos.


Se marés nos trouxeram a estas praias iluminadas pelo sol dos antepassados, as ondas das gerações futuras um dia ao procurar suas raízes também dirão:

“Que saudades do não vivido!”

11 comentários:

  1. Há uma música de Renato Russo que diz:
    "E é só vc que tem a cura pra esse meu vício de insistir nessa saudade que eu sinto de tudo que eu ainda não vi...".
    Adoro.
    Belo post, Cecília!

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  2. Oi, Paty. Grande Renato Russo. Pelo carinho do elogio, super obrigada!

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  3. Cecilia

    Bom dia!

    Seus posts são de uma sensibilidade e delicadeza impressionante. Chega a descrever o que sentimos e não tínhamos percebido até ler-los.
    Onde encontro livros seus, na Saraiva tem??
    Adoro o que você escreve e por isso preciso ler um livro seu, para conhecer melhor seus trabalhos literários.

    Que bom que conseguiu abrir o meu post!! :D

    Uma linda semana!!

    Beijos
    Elaine

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  4. Elaine, se um dia vier a Aractuba dou-lhe com prazer, ainda tenho uns poucos. Caso contrário só vai achá-los em sebo. Muito obrigada por enxergar dessa forma e por postar isso pra que eu saiba.Bjks

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  5. É um doce deleite poder lê-la, e sentir vc se expressar tão bem aquilo que por anos e anos passamos estudando e tentando compreender...

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  6. Poxa LoLa! Obrigada. Sigo aprendendo, e esta parece ser a unica forma pela qual eu posso agir pra tentar trazer um mundo melhor. Nem sabe como e bom quando sentimos que existem olhos para ler o este pequeno esforco. Bjns

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  7. Celita, como faz bem a alma, descobrir alguem doce, positiva, profunda e simples, ao mesmo tempo!Estou encantada...a priminha pequenininha desabrochou numa mulher esfuziante !!!

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  8. Re querida, que gostoso ler isso! Obrigada pelo carinho de prima e pelo prestigio de receber sua atenciosa leitura. Bjnhs de admiradora e um dia Daminha (risos)

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  9. Viajar em teus escritos é bálsamo para a alma.
    A saudade que hoje sentimos é tão sufocante como a de outrora, mas, sem dúvida, não se compara à solidão experienciada por nossos antepassados, muitos dos quais, fenecidos em continentes perdidos. Meu carinho e meus aplausos!

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  10. Caro Antenor, esses dias li um livro publicado aqui nos Aracas que detalha o passado do escritor, mas que se mostra a verdade de todos nos. Agradeco sua gentil avaliacao. Abraco.

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  11. muito interessante o que você coloca aqui, realmente apesar de traçarmos nossos caminhos a acabarmos longe daqueles que amamos, hoje em dia a distancia é apenas um detalhe, nossos antepassados de fato sofriam mais com a distância... :D

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Que bom que quis comentar. Pode esperar que logo respondo. Obrigadinha.