"A virtude e o saber são o apanágio do homem íntegro e perfeito (...) O termo virtude designa a disposição constante e habitual do homem para a prática do bem"
Quantas pessoas você conhece que agem da forma descrita acima a ponto de escrever um livro que fale somente sobre as virtudes?
Almir Bodstein é exemplo deste tipo (em extinção?) de ser humano.
Força moral e erudição. Ah, Academia... Talvez ele não houvesse nascido ali. Não, não nasceu.. Sabe-se que nasceu em Cuiabá e se formou em Filosofia, Letras e Ciências. Mas o último lugar em que esteve por vontade própria antes de ir-se foi ali.
Existem dados. Na verdade, Almir Bodstein foi nascido no auge do Modernismo, 1922, mas em Cuiabá, longe da efervescência paulistana. Foi colaborador de jornais e revistas, poeta bissexto, autor de livros de gramática, crônicas, e de conduta de vida cristã. Lecionou português em variadas cidades e instituições Salesianas, e ainda latim e outras matérias "acidentalmente", como costumava dizer.
Deixou o Seminário da Imaculada Conceição em Cuiabá para afinal casar-se com a nossa Odette Costa e sentar-se um dia, ao lado dela, nas cadeiras da Araçatubense de Letras. E quem diria que ele não havia nascido ali, ali mesmo, naquela cadeira, próxima à janela, que ocupava quando Odette ainda era viva. Aquelas paredes, sala, mesa, cadeiras, enfim toda a Associação deveu-se (muito) à ela que ao casar-se tornou-se Bodstein.
Teria o ex-seminarista se apaixonado perdidamente por Odette? Teria Odette aguardado por aquele amor tardio? Único. Do cume dos 86 anos de Almir 48 foram vividos ao lado dela. Diz-se que não tiveram filhos, mas muitos foram os afilhados de um e de outro. Houve também os desvelados, entre eles Maria Aparecida dos Santos Rovani e Vanda de Souza Carvalho.
Com a ida do Professor esfacela-se o duo-pilar da Academia. Mas há que se construir um substitutivo para a argamassa e o cimento, a espessura e o lenimento da sinfonia que o casal ali compunha.
Desde a ausência da colunista pintou-se o prédio, mudou-se a sala, trocaram-se as cadeiras, entraram novos acadêmicos, e a presença do silêncio de Almir Jorge Bodstein dominando o ambiente trazia de volta nossa Odette.
Se a partida de uns é chegada de outros, a ida sem retorno não é adeus, pois afinal, todos sabemos: acadêmicos são imortais.
De qualquer forma, professor Almir, uma última palavra: a presença do seu absoluto silêncio forte e atento assombrará sem sobressaltos ou sustos a memória daquelas paredes e o sabor das saudades sempre nos assomará.
Curiosidades:
* Odette Costa e Almir Bodstein, ambos membros fundadores da Academia Araçatubense de Letras não tendo filhos deixaram sua genética expressa em letras.
* Odette Costa foi quem insistiu que eu escrevesse algo, preferencialmente um poema. Assim, o primeiro poema foi baseado na cidade de Araçatuba, que me acolhia como uma entre os seus.
* A crônica acima foi publicada na Folha da Região em 17/06/2009
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