domingo, 24 de junho de 2012

RIA -, POSSA + 20





No chamado ecocentrismo eco é a casa, o domicílio, o meio ambiente como o centro do universo atual.





Ego, o eu, o homem, a humanidade como umbigo universal foi o homocentrismo, filosofia ultrapassada. Seria?





Mestre e aprendiz raciocinavam sobre a sobrevivência humana.

Avaliavam a diferença entre civilizações mais e menos inventivas e capacidades de agirem evolutivamente, ou de seguirem dependentes da natureza ao longo da história.




O pensador crê que o homem se sente sempre o centro do universo, mesmo diante da evolução do saber. Mesmo tendo noção das infinitas forças naturais. Mesmo reconhecendo cientificamente o aumento das tempestades solares, o ser humano quer se achar o instrumento único do aquecimento global.








Sim o homem precisa usar a consciência ao relacionar-se com os animais e com o restante da natureza. Mas se ainda nem aprendeu a se relacionar com o semelhante?



Ou já não importa que homens continuem se matando e ignorando as dores alheias, que permaneçam se corrompendo e se beneficiando de dinheiros que não são seus aumentando o sofrimento dos muito carentes?








Ah, é, tudo o que interessa hoje ao universo é que se reciclem garrafas pet e saquinhos de supermercado!, concorda o aluno.





O filósofo lembra que governos incapazes de cuidar da saúde, da segurança, da educação infantil, de assistir a adolescência, de sustentar a velhice, de dar boa infraestrutura às escolas, ao asfaltamento, à água encanada e tratada, e, apesar dos altíssimos impostos, serem também ineficientes no proporcionar energia barata podem criar exageros para desviar a atenção dos eleitores diante dos verdadeiros problemas. Por que não valorizar a extremos algum ecocentrismo?

Faz sentido pensa o aluno: “Alimentos orgânicos e farra da sustentabilidade” seriam o novo “pão e circo” para o povo? Ecocentrismo seriam os estudos ecológicos vestidos para desfilar num carnaval de sustentabilidade homocêntrica? O Brasil, talvez mais do que outros países, poderia ter abraçado esse fantasiar?

Bem, não há como contestar certos fatos. O homem já pensou ser o único responsável pela abertura de certo buraco na camada de ozônio. E agora o tal buraco está prestes a se fechar sem a ação do homem.

Seriam eles os “eco-catastróficos”, brinca o rapaz e parodia: enquanto isso, na sala dos adeptos da “ego-eco-catástrofe” pensa-se em talvez afirmar que o vilão dos novos transtornos climáticos seja o tal fechamento “ozônico”. Só não encontraram (ainda) como voltar a culpar-nos por essa ação.



Bem, é que gostaríamos de ser assim onipotentes. Mas, as profundas alterações climáticas provavelmente têm pequena parcela de influência humana, segundo estudiosos honestos. E, se entre os chamados racionais não somos todo-poderosos, é dos criativos e/ou realizadores que tem dependido, senão a existência, o conforto da maioria de nós.





É na contramão da história que os “eco-ilógicos” pensam que o homem pode tudo possuir sem nada oferecer? Como se aguardassem que a natureza lhes despejasse no colo o alimento e o conforto de um iPad?








Ao menos até hoje sempre têm restado homens capazes de plantar, colher, e pastorear por lucro, mas pela fome no mundo, e muitos deles só sabem fazer isso de maneira racional e sustentável (pois disso depende o seu negócio), outros pensam em como fabricar um tablet de pouco impacto ambiental, custo energético menor, preços mais baixos para lucros compensatórios, etc; ou seja, alimento mais bem-estar e por aí iremos, avalia o professor.




É sabido que os partidários da beleza de se viver como índios não sobreviveriam uma semana no seio de uma taba sem ter sede de civilização, diverte-se o estudante, o “eco-vegetativo” é gente que repete ideias modernas e bonitinhas, mas desconhece o assunto e os interesses... E, professor, há solução?



A solução para a sustentabilidade do mundo, hoje como sempre, é clara como água. É matemática simples, continha de mais, qualquer criança entende:

* Se um governo gastar mais do que arrecada, por mais que habitantes honestos gerem riqueza e se esforcem, jamais se governará para todos.

* Da mesma forma se um planeta gerar mais gente do que suporta, não importa o quanto tente crescer em produção, jamais proporcionará um ambiente digno e com qualidade de vida para todos.

* A solução é o equilíbrio, entre as espécies. É perdermos a vocação de onipotência e enxergar que ratos em crescimento dentro de uma caixa fechada tendem a comer-se.

* Não pode haver no mundo mais gente do que recursos naturais. E os países inventivos e producentes tomarão as medidas cabíveis sem fanfarra.

E é isso, constata o mestre. Diante de tantas pressões e propagandas contrárias, diante de tantos invasores, e espécies de desmatadores de terras vestidos de bom selvagens, como das muitas devorantes burocracias, é preciso que nossas mentes inventivas e geradores de fartura resistam sem deixar-se esmagar.

Porque só eles podem ensinar, vinte vezes mais, com exemplos pessoais, que progredir é cuidar do próprio quintal.

Quem não sabe que qualquer animal com alguma inteligência não faz xixi onde dorme?, finaliza o aluno.





Curiosidades:

* Crônica publicada no jornal Folha da Região, coluna Porta-retratos, em 24/01/12

terça-feira, 19 de junho de 2012

Primavera II (haikai / haru)



O afã fere a flor,

e o grilo grita da greta:

- O pássaro a beija!









* Haikai de Cecilia Ferreira

quinta-feira, 14 de junho de 2012

DOIS PONTOS






Um amor assim feito o nosso
não é amor sem tropeços,
é o tal amor conquistado:
quando penso que não posso
vem você com recomeços.








Mas,
se for sua vez
de chegar meio mansinho
com jeito de desistir,
de quem já não sabe se quer
amar esta flor mulher,
eu me visto margarida:
na dança do bem-me-quer
do mal me faço despida.





Um amor assim feito o nosso,
que por amar traz percalços,
é saltar as pedras da estrada,
soprar o arder das topadas,
espanar o pó dos caminhos...





E se, ao de nós mesmos cansados,
à boca dos riachos
na concha de nossas mãos
em eterno entrelaçar,
quisermos matar nossas sedes
a superfície de espelho,
mesmo em água gotejada
sobre o chão que nos lambe os joelhos,
confirma o preço acordado:
eu para sempre querida
onde você é o amado.




Cecília Ferreira


Curiosidades:
• Poeminha de 38 anos do primeiro cruzar olhares.

domingo, 10 de junho de 2012

O COLECIONADOR DE EXPRESSÕES.









Naquela pequena cidade Prudêncio era o dono da única indústria de grande porte.


Era bom remunerador, fornecia empregos, gerava receita, pagava impostos e fazia a cidadezinha brasileira ser diferente da maioria: o município dava lucro ao país.




- Coisa rara, afirma Joaquim Visitante, deve dar briga por emprego!


- Cidade industrial dando lucro, sabe como é, responde o morador João Contador. Não sou economista, nem sindicalista, e desconheço a razão do aumento na oferta de empregos. Mas o crescimento, ainda que pequeno, tem sido contínuo e a receita da empresa impressiona!

Ambos estão numa missa de sétimo dia do falecido Prudêncio, um idoso muito ativo e trabalhador, producente até seu último dia, que parece querido pelas famílias dos funcionários: a igreja e praça defronte efervescem com os que querem solidarizar.

João segreda a Joaquim:

- É, mas o cara era muito excêntrico! Colecionava expressões.

- Como assim?, pergunta Joaquim.



- As paredes e aparadores da casa estão repletos de porta-retratos de homens em variadas expressões, responde o amigo.


- Eta, João, por quê?





- Ah, parece que o Prudêncio era maníaco. Registrava homens fazendo caras inteligentes diante de idiotices.

- Como?

- Aos domingos o industrial pegava seu jatinho e saia pelo Brasil. Ia assistir em bar qualquer àquele programa noturno e global. Ao transmitirem matérias que ele pensava encomendadas por interesses estranhos, o Prudêncio fotografava algum telespectador com cara de sábio diante da besteira. Debaixo da foto registrava data e reportagem.

- Não entendi, João.


- Tipo assim: foto de um engravatado fazendo ar brilhante (um sujeito que nunca viu uma galinha, a não ser frita no prato). E, sob a foto, registrado: “Homem que acredita nos interesses de outros países / Matéria: ‘É preciso acabar com o gado. O pum do gado causa o aquecimento global’”. Entendeu Joaquim?




- E pode mesmo causar, João?






- Uai, Joaquim, o que pode ser mais agressivo do que os gases soltos no ar dia e noite pelas gigantes indústrias ocidentais e orientais? Daquelas que fabricam armas, tanques, navios e aviões de guerra? Por que seria o pum do gado o vilão da humanidade? O homem do campo ia ter que viver com tampão nas narinas!




- Mas, por que alguém pagaria por tal reportagem, João?





- Sabe o chefe de propaganda do Hitler? O que convenceu os alemães de que Hitler podia matar judeus e todos os que não fossem puros alemães?

- O tal de Goebbels, que dizia: “Uma mentira repetida mil vezes torna-se uma verdade”?
















- Naquele tempo mal existia cinema e Hitler foi transformado num homem bonzinho, quase um Papai Noel! Imagine tais questões reproduzidas pela Tv e pela internet para milhões de desinformados?










- Entendi, João: eles defendem tudo o que produzem e atacam o pouco que produzimos. Defendem-se como “raça” superior e o brasileiro sem estudo, ou ganancioso, acredita. Foi aí que Prudêncio morreu de raiva? Ao ver a última reportagem encomendada? Porque dizem que morreu no dia em que acusaram os policiais ‘malvados’ de virarem certa câmera. O interessante é que não mostraram nenhum policial se dirigindo para a câmera, nem a mão dele ‘virando ela’, nem tascando pedrada. Querem que os traficantes, transferidos pra São Paulo, possam exercer o seu direito de ameaçar, assaltar, matar, desde que continuem a comprar a peso de ouro o armamento pesado que produzem, não é mesmo?




- Por aí, né Joaquim? Imagine, se o policial tivesse mesmo virado a câmera? ‘Tava’ tudo sendo filmado! A câmera tava gravando, caramba! Ia ter lá a cara dele, a mão dele, tudo! Ia sair na mídia mundial! Ia ser escorraçado na capa da Seja!

- Isso é! Foi dessa mentira que o Prudêncio morreu de raiva domingo passado?

- Bom, morreu domingo à noite e de raiva. Sim. Mas não viajou naquele final de semana. Ficou em casa reunido com os filhos.

- E...? Pô, fala João!

- É que o Prudêncio, que dividira igualmente as cotas da empresa com seus seis filhos adultos, foi informado por eles da venda da própria empresa.

- Acho que eu também morreria de susto. Dá lucro, vender por quê?

- Disseram que cansaram das lutas de classe forçadas e aceitas como normais e que cansaram de a mídia tendenciosa os apontar como vilões da atualidade brasileira.

- E foi então que o Prudêncio morreu!



- Não, mas quando os filhos informaram que iriam investir o dinheiro da venda da fábrica nas próprias candidaturas a deputados e senadores (para viverem para sempre felizes na dependência do Estado)foi aí que Prudêncio morreu de raiva por não poder fotografar-se!





• Artigo de Cecilia Ferreira publicado em 10/06/2012 no jornalFolha da região, coluna pessoal PORTA-RETRATOS.

domingo, 3 de junho de 2012

Se a estética humana
em roupagem atraente 
disfarçar a ausência de ética,
é tocar a laje fria,
é abrir o ganhar de um presente 
e encontrar a caixa vazia.



* Poema de Cecilia Ferreira produzido sob encomenda para a página de abertura do

GEPEM (GRUPO DE ESTUDOS E PESQUISAS em EDUCAÇÃO MORAL) ligado à UNESP e à UNICAMP. http://www.gepem.org/Joomla/index.php/pagina-inicial

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Certezas (?)






A certeza do outro está incomdando?


Por certo topou com a sua no meio do caminho


(que, como dizia o poeta, tinha uma pedra).











* Cecilia Ferreira